quinta-feira, 30 de junho de 2011

Pós-venda, ainda um desafio

     Certa vez, um concessionário irritado - muito irritado, diga-se! - reagiu mal a uma reportagem que publicamos no velho caderno Carro e Moto, do ainda digno Jornal do Brasil. Como em quase todas as ocasiões, nossas matérias eram pensadas, executadas e editadas a seis mãos. Nesse caso, as outras quatro mãos pertenciam aos ótimos repórteres João Marcello Erthal e Alexandre Carauta.
     Em síntese: fizemos, com o auxílio de um mecânico, uma relação de peças que seriam necessárias a um reparo no motor de um hipotético Monza (não podemos esquecer que estamos falando da segunda metade da década de 1990). Com a lista em mãos (constata-se a importância do número de participantes), percorremos algumas revendas Chevrolet e lojas do mercado paralelo, solicitando orçamentos.
     A diferença era astronômica. Pelo valor cobrado por um pistão, por exemplo, na tal loja campeã de preços altos, quase compraríamos uma orquestra inteira. Fizemos a devida ressalva de que as peças, embora de marcas confiáveis, não eram as chamadas 'originais' e sapecamos a matéria na primeira página, com a reprodução dos orçamentos. Confesso que o nosso departamento comercial também não ficou muito satisfeito, face às reclamações que por lá chegaram.
     Mas éramos da redação e, embora sintonizados com a necessidade de faturamento da empresa, não censurávamos nossas ideias. Nessa época isso ainda era possível. Alguns anos depois, já fora do jornal, era informado que até as manchetes eram vendidas ao primeiro que passasse.
     Essa história toda tem um motivo. Pouca coisa mudou nesses anos, especialmente em relação ao pós-venda de automóveis. Excetuando marcas que usam prazos de garantia e compromissos com preços fixos de revisão como arma de marketing, as concessionárias das marcas tradicionais continuam cobrando muito caro pelos seus serviços. Recentemente, ao verificar que meu carro, um simplório modelo 1.0, chegava à idade da segunda revisão (20 mil quilômetros), tentei saber quanto pagaria pelo serviço.
     Depois de algumas respostas evasivas e de rever a fatura da primeira revisão, aquela que é 'gratuita' - foram assustadores R$ 630,00, há um ano -, decidi simplificar. Peguei o manual, olhei ponto por ponto o que - em tese - seria feito e entrei em uma oficina tradicional aqui da Pedra. Verificamos (o mecânico verificou, na verdade) o nível de todos os fluídos, pastilhas de freio e trocamos o óleo do motor (três litros e meio de um produto de excelente qualidade, recomendado pela própria montadora) e os filtros de óleo, de ar e de combustível, além de ajustar pressão dos pneus e vistoriar a qualidade do líquido de refrigeração do motor e a existência de eventuais vazamentos.
     Com a mão-de-obra, deixei na oficina justos R$ 140,00. Imagino - é so imaginação, reconheço - que essa revisão não me custaria menos de R$ 1.000,00, se executada na concessionária. Essa presunção de economia serviu, ao menos, para melhorar meu humor, ainda abalado pela atuação pífia do Vasco contra o Cruzeiro, ontem à noite.

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