quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Um desserviço `a Justiça e `a democracia

     A - vamos chamar assim - 'performance' do ministro Ricardo Lewandowski, ontem, ao absolver o ex-presidente do PT, José Genoíno, da acusação de corrupção ativa, no processo que julga o episódio que ficou conhecido como Mensalão do Governo Lula, continua repercutindo, intensamente. Em O Globo, todas - eu disse todas! - as cartas de leitores destacaram a sua 'emoção' na defesa do personagem que ele chamou de "um deputado ideológico que tem uma vida modesta, sustenta os pais e tem três filhos".
     A 'comoção' provocada pelo revisor foi tão grande que provocou uma onda de manifestações nas redes sociais, quase todas lembrando episódios não muito edificantes da carreira do ministro (que eu me permito não repetir) e sua 'estreitíssima' ligação com a família do ex-presidente Lula. Em resumo: Lewandowski, na minha interpretação, prestou um enorme desserviço à República, lançando dúvidas quanto à integridade dos juízes, em virtude de seu comportamento inusual.
     E não estou me referindo, de maneira alguma, à absolvição pura e simples de José Genoíno, já esperada e anunciada nos seus votos anteriores. O contraditório e a diversidade na interpretação de fatos fazem parte de um julgamento em países democráticas. A Justiça funciona assim, para felicidade geral das nações livres. A forma usada por Lewandowski, no entanto, conspurcou o julgamento. A começar pela roupagem que adotou, a do ministro 'paz e amor', que lembrou a do ex-presidente.
      Ele não revisou o processo, como seria de se esperar. Antes, manipulou os fatos, cortando aqui, emendando ali, num comportamento marcado pelo evidente comprometimento político e emocional. Não foi um magistrado. Foi um militante a serviço de uma causa, de um partido, de um líder. O mal já está feito. A improvável absolvição de José Genoíno e de José Dirceu seria encarada pela sociedade como um embuste, pelo que ocorreu no STF ontem.
     Até mesmo a condenação que impôs ao ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, ficou desmoralizada. Pareceu a todos que ele estava apenas seguindo o script adotado desde a divulgação do escândalo. Delúbio surge, mais uma vez, como uma espécie de 'boi de piranha', sacrificado para preservar os nomes mais emblemáticos do PT.
     A reação de alguns de seus pares foi constrangedora. Vários ministros trafegaram entre o mais puro espanto e a debochada ironia. Lewandowski, mais ainda do que Dias Toffoli (de quem não se esperava nada especial, em virtude de seus vínculos com o PT no governo passado), está se desmoralizando.

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