domingo, 7 de outubro de 2012

Eu voto em Marechal

     Há muitos anos, dia de eleição também rima, para mim, com emoção, reencontro. Nesse caso, não 'apenas' com um direito inalienável e do qual eu nunca abri mão (jamais votei em branco ou anulei meu voto), mas com uma volta no tempo. Embora já não more em Marechal Hermes há 35 anos, é lá que mantenho meu domicílio eleitoral, atrelado à casa modestíssima (que hoje é de meu irmão) onde passei infância, adolescência e juventude. Foi em Marechal que casei e vi minha primeira filha nascer. "Flávia é de Marechal", costuma provocar Fabiana, a mais nova, reforçando o histórico 'suburbano 'da irmã, como se não tivesse nascido em Jacarepaguá.
     Votar, portanto, também é uma grande e quase sempre gratificante volta às minhas origens de carioca nascido em algum lugar incerto nos limites da Saúde e da Gamboa, mas criado no distante subúrbio da Central do Brasil (fica entre Bento Ribeiro e Deodoro, bem perto da Vila Militar), quando ainda era mais risonho, franco e inocente do que nos dias de hoje.
     Minha seção eleitoral ficava justamente na Escola Municipal Evangelina Duarte Batista, onde cursei o que, na época, chamavam de Primário. Por muito tempo, a urna ficava exatamente na minha última sala de aula, que pouco mudara desde os tempos em que era tomada pela presença de Gladys, uma das minhas professoras inesquecíveis.
     Por algum desses desígnios insondáveis, passei a votar na Escola Municipal Santos Dumont, que fica ao lado, e com a qual nós, alunos da Evangelina, mantínhamos uma saudável e pueril disputa. As duas escolas - prédios imponentes e bonitos - dominam uma grande praça - Praça XV de Novembro - onde despontava um coreto do começo do começo do século passado, destruído pelo modernismo desencontrado das obras do 'bairro-cidade' (lembram?). Parece - assim eu li em algum momento - que 'nosso' coreto será reconstruído, no mesmo lugar, com base nas fotos antigas.
     Em Marechal Hermes - especialmente no lado esquerdo de quem chega, de trem, o da Rua João Vicente, que acompanha a linha férrea -, quase tudo recende a civismo, Pátria, desde o nome do bairro (homenagem ao nosso primeiro presidente militar eleito pelo voto direto, Hermes da Fonseca, sobrinho do também marechal Deodoro da Fonseca, o primeiro presidente do Brasil República), às denominações das praças (a que fica em frente à estação de trens homenageia a campanha da Itália: Praça Montese), avenidas (Avenida Marechal Oswaldo Cordeiro de Farias, a principal, por exemplo) e ruas, como a General Savaget e Capitão Rubens, onde morei.
     Dessa vez, além do espírito cívico, vou 'armado' com minha máquina fotográfica, decidido a, pelo menos, tentar reproduzir a velha estação ferroviária, a mais bela de todas, inaugurada em 1913, pelo então presidente que batiza o bairro, e tombada pelo Patrimônio Histórico. Aliás, Marechal Hermes é um exemplo de projeto residencial: foi um dos primeiros bairros projetados da cidade, com ruas largas e arborizadas e casario baixo (destinado à nova classe operária que surgia no país) e que resistem, até hoje, ao avanço da modernidade.

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