quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Lewandowski se superou, de novo

     Vou me permitir insistir no tema. Não possso afirmar que tenha acompanhado dezenas de julgamentos realizados pelo STF. Não seria verdade. Mas, ao longo dos últimos anos, tenho acompanhado, sim, os principais. Nunca, jamais, presenciei momentos tão deploráveis quanto os protagonizados pelo ministro Ricardo Lewandowski ontem, no voto em que absolveu o ex-presidente do PT, José Genoíno, da acusação de corrupção ativa.
     Nem mesmo o presidente do Tribunal, Ayres Brito, marcante por sua fidalguia, conseguiu resistir ao mal-estar provocado por Lewandowski e destacou a 'ênfase' do colega, incomum até mesmo no mais bem-pago advogado de defesa dos quadrilheiros que assaltaram os cofres públicos durante o Governo Lula. Em determinados momentos, Lewandowski flertou com o ridículo, na ânsia de descaracterizar a acusação sobre Genoíno.
     Havia, claramente, um enorme constrangimento na Corte. Os demais ministros mantinham-se calados. Luiz Fux quase não se conteve. A intervenção de Ayres Brito abriu o caminho para algumas manifestações, como as do próprio Fux (estava evidentemente espantado) e a de Marco Aurélio Melo, que não resistiu e chamou o revisor à responsabilidade, lembrando, em determinado momento, que José Genoíno não estava sendo julgado por corrupção passiva (cometida por quem recebe o benefício), e sim por corrupção ativa, a que é praticada pelo corruptor.
     Lewandowski, sem dúvida, deixou-se levar pelo envolvimento pesoal. Sua defesa não só de José Genoíno, mas do PT como um todo ("chegou a ter seis milhões de filiados", clamava) ultrapassou todos os parâmetros. Não abordou eventuais falhas processuais, mas mergulhou num discurso quase panfletário, usando trechos manipulados de depoimentos. Em determinado ponto, condenou irremediavelmente a acusação, seguindo a linha traçada pelos dirigentes partidários. Mas tendo o cuidado de não atacar diretamente o ministro Joaquim Barbosa. Confesso que ainda estou impressionado.
     Acho, no entanto, que toda essa emoção - a tal ênfase citada por Ayres Brito - não vai ajudar os principais nomes da companheirada. Ao contrário. As intervenções realizadas por Brito, Fux e Marco Aurélio apontaram para a condenação. Não só dos acusados, mas da tese defendida por ele, Lewandowski. O laço está se apertando no pescoço dos quadrilheiros.

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