terça-feira, 9 de outubro de 2012

Os cavalos de Marechal Hermes

     A volta a Marechal Hermes, domingo, proporcionada pela eleição (é lá que ainda mantenho meu domicílio eleitoral) trouxe com ela muitas lembranças, como costuma acontecer. Não precisava, mas me obriguei a passar pela Rua Capitão Rubens, onde cresci, e que já não guarda qualquer vestígio do que era nos anos 1950.
     Em virtude das mudanças provocadas pelas obras do antigo Rio-Cidade, todo o trânsito oriundo da Avenida Marechal Oswaldo Cordeiro de Farias, a principal do bairro, vindo da estação ferroviária, passa obrigatoriamente por dois de seus quarteirões, acompanhando a lateral do Hospital Carlos Chagas. É um trânsito intenso, que modificou inteiramente o perfil do lugar.
     Quem passa por ali, hoje, não imagina que há 50 anos aquele trecho de rua ainda era de terra batida, onde a molecada jogava intermináveis peladas, e repleto de ficus (não sobrou um, sequer), que espalhavam sombra e refrescavam os longos dias do subúrbio. Junto às calçadas precárias de então, crescia o capim que alimentava os burros usados para puxar a carroça usada para recolher o lixo das casas.
     Essa imagem, de burros pastando, me remeteu a um momento da adolescência, quando eu cursava o então chamado ginásio, no Colégio Pedro II da Tijuca. Entre meus vários amigos, um se destacava: Armando, o melhor aluno da classe, um jovem tranquilo, que morava por ali mesmo, perto da Praça Saenz Peña.
     Em um dos dias das férias de meio de ano, combinamos que ele iria passar o dia lá na minha casa, almoçar, jogar uma pelada com meus colegas de rua. Preocupado, fiz um mapa completo, com o roteiro que teria que cumprir, quando descesse no ponto final da antiga linha de ônibus 75. Afinal, Armando jamais ousara se aventurar por aquelas bandas da cidade.
     Chegou bem, cedo. Quis saber se ele teve algum problema, se o mapa funcionara a contento. Com a ironia que normalmente caracteriza pessoas inteligentes, ele não deixou passar a oportunidade de me provocar:
      - Foi tudo bem. Mas você não precisava detalhar tanto. Era só dizer para eu entrar na rua onde alguns cavalos estavam pastando, soltos, na calçada.

2 comentários:

  1. Lembro com saudade daquele "campo" de pelada, onde eu mesmo, moleque lépido e fominha, marquei muitos gols...

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  2. Peladas nas ruas, como na que você morava, a antiga 'Rua 13', Paulo. Com direito a ficar sem a 'cabeça do dedão' do pé, arrancada seguidamente pelas pedras do caminho.

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