segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Dignidade x 'leviandade'

     A intervenção açodada do ministro Ricardo Lewandowski no meio do voto de Joaquim Barbosa chegou a ser cômica. Assim que percebeu a opção do relator por absolver o publicitário de Lula, Duda Mendonça, especificamente do crime de desvio de divisas - atendo-se exclusivamente a um detalhe legalista -, Lewandowski apressou-se a dizer que também absolvia o sujeito que recebeu dinheiro roubado pelo trabalho realizado na campanha eleitoral de 2002, aquela que ajudou a eleger o ex-presidente Lula, pela primeira vez.
     Depois de tantas surras - entre as quais a emblemática condenação do ex-ministro José Dirceu, defendido ardorosamente por ele -, Lewandowski parece que ainda não percebeu que Barbosa é cirurgico, inflexível e que não vai compactuar com a impunidade. Bastaram alguns minutos para o reral propósito do relator emergir: condenou Duda e a sócia por lavagem de dinheiro, 53 vezes!!!
     Lewandowski, que começou - em seguida - a fazer a defesa do esquema de assalto aos bens públicos, terá uma tarefa complicada. Afinal, o próprio Duda Mendonça confessou, em depoimento à CPI do Mensalão, que recebeu dinheiro fora do país, em uma conta aberta apenas para isso. E foram R$ 10 milhões. Dinheiro que, já ficou provado, era fruto de um esquema deletério, canalha, de assalto aos cofres públicos.
     'Entende-se' a preocupação do 'revisor', na verdade, o principal advogado de defesa da quadrilha do Mensalão. Se os gastos da campanha foram pagos com dinheiro roubado, essa campanha e suas consequências, a própria eleição de Lula, estariam definitivamente conspurcada. Por associação, seria a aplicação da teoria do frutos da árvore envenenada: o que surge de um ato criminoso, criminoso é.
     Como o Brasil decente continua a acompanhar, trava-se no STF uma enorme batalha entre a dignidade e a 'leviandade'.

Nenhum comentário:

Postar um comentário