sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A dor dos dignos e dos promíscuos

    O Ministério da presidente Dilma Rousseff - especialmente o 'núcleo ideológico' - é, para mim, o exemplo clássico do misto de mediocridade e permissividade instalado no país há nove anos e nove meses. É difícil não ficar assustado quando esbarramos em nomes do quilate de Aloísio Mercadante (Educação), apontado como o chefe dos 'aloprados' que tentaram negociar dossiês falsos contra políticos da Oposição; Fernando Pimentel (Desenvolvimento e muitas coisas mais), o ex-prefeito de Belo Horizonte que recebeu R$ 2 milhões por palestras que jamais proferiu; Ideli Salvatti (Relações Institucionais, seja lá o que imaginamos que isso venha a ser), acusada de 'malfeitos' à frente do Ministério da Pesca; Marco Aurélio Garcia, aquele que ignorou a morte de 200 pessoas e comemorou a descoberta de um detalhe técnico no acidente com um avião da TAM; e o indefectível secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, acusado formalmente de ser o encarregado de transportar a propina que o PT recebia de empresas de ônibus do interior paulista, no começo dos anos 2000.
     Pois coube a um deles, Gilberto Carvalho - talvez o mais emblemático, por sua dedicação ao ex-presidente Lula (já afirmou que morreria por ele) - falar hoje, a O Globo, do sentimento em torno da anunciada condenação à cadeia de três dos principais nomes do PT, destaque absoluto para o ex-ministro José Dirceu, seu velho companheiro de 'lutas' (era a Dirceu - segundo afirmam os irmãos do prefeito Celso Daniel, assassinado por se rebelar contra o destino do dinheiro extorquido de empresários de ônibus - que ele entregava a propina)
     "A dor me impede de falar nesta questão", disse o ministro, e o jornal destacou. Dor pelo destino dos companheiros (a cadeia, pelo que se apresenta), não pelas suas ações deletérias, pela traição que cometeram com o país, pelo péssimo exemplo que deram e continuam dando à sociedade. Pois o PT mais uma vez silencia, se omite, foge, quando confrontado com os atos indignos cometidos em nome de uma suposta causa. Não há indignação, mas uma solidariedade indecente, promíscua.
     Muito diferente, por exemplo, da emoção demonstrada ontem pela ministra Rosa Weber, no seu voto também devastador. Ficou evidente que a ministra estava emocionada, triste mesmo, por ser compelida, em nome da decência - "preciso deitar a cabeça no travesseiro", ou algo muito semelhante, destacou -, a condenar pessoas nas quais ela claramente confiou algum dia.
     Não é o que ocorre com a grande maioria do partido e da malta que sobrevive das migalhas - generosíssimas, é verdade - atiradas pelos governos dessa extremamente promíscua Era Lula. Ainda provoca náuseas o manifesto lançado por 'intelectuais' para tentar coagir e chantagear principalmente o plenário do Supremo Tribunal Federal, às vésperas de iniciar a parte mais importante do julgamento do Mensalão do Governo Lula. Quanto ao maior atentado institucional à democracia e à dignidade, o mais profundo e 'eloquente' silêncio.
     Definitivamente, a dor dos dignos não se assemelha à do ministro de Dilma.

2 comentários:

  1. Texto primoroso, amigo. O conteúdo exprime tudo aquilo que sentimos mas não somos capazes de dizer com tanto brilhantismo e com tamanha precisão.
    Parabéns!

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  2. Obrigado pela gentileza, Paulo. É difícil não reagir a situações como essas. Com emoção, também.

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