segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Um retrato da América do Sul

     O artigo do ex-presidente uruguaio Julio Maria Sanguinetti hoje, em O Globo ('A grande batalha cultural'), embora centrado no passado recente, no presente e no futuro imediato do seu país, poderia ser aplicado, praticamente sem mudanças, à maioria absoluta das nações da América do Sul, em especial ao Brasil.
     No caso brasileiro, diferentemente do uruguaio, o desenvolvimento começou mais cedo, mas o grande impulso se deu, também, a partir dos anos 1990. Prevalecem, no entanto, as demais observações quanto aos avanços em todos os setores, atropelados - lá como aqui - pelo sectarismo de um grupo ideológico que usou de todos os meios para chegar ao poder e para se manter nele.
     O ex-presidente lamenta que, apesar de todo o inegável progresso material, prevaleça no país o corporativismo sindical, que domina o ensino e os serviços de saúde, com base "no clientelismo e na mediocridade". E vai além, lembrando a formação "parcial e mentirosa da história", que nivela por baixo e está instalado no Estado.
     Na política externa, Sanguinetti aponta a insistência na defesa do regime cubano, classificado por ele como "fracassado", e a tendência a acreditar "haver algo de sério no socialismo venezuelano do século 21". Critica a adoção de um modelo populista de seguridade social que, "em veza de tentar superar a pobreza, a congela para sempre; em vez de ajudar adolescentes atrasados nos estudos, premiam-nos com um passe social; aos mais pobre oferece dinheiro, e não educação", deixando-os "tão pobres como antes, mas agora, além disso, dependentes da dádiva oficial".
     Mais adiante, o ex-presente, jornalista e historiador alerta para outra distorção atual: a aceitação tácita da linguagem vulgar substituindo a culta, que - segundo ele - condena "à pobreza endêmica os que não sabem se expressar como requer qualquer atividade importante".
     O texto, como se coloca, retrata claramente não a situação de um país isoladamente, mas a lamentável onda de atraso intelectual e político que inunda nosso continente e que vive seu apogeu  no Brasil.  

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