quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Variações sobre o mesmo tema: direita e esquerda

     A repercussão do artigo do economista Rodrigo Constantino sobre esquerdas e esquerdistas, em O Globo, ontem, é um sintoma bem claro do nosso momento político e me remeteu a situações emblemáticas dessa dicotomia. Recentemente fui atirado na vala comum da direita por um amigo de longa data, em função das minhas críticas incisivas especialmente ao PT e a seus dirigentes mais destacados, como o ex-presidente Lula, seu ex-chefe da casa Civil, José Dirceu, e nossa atual mendatária, Dilma Rousseff.
     Apontar o dedo sobre as pilantragens petistas - a roubalheira escandalosa em si e o gritante estelionato ideológico praticado pelo partido -, há algum tempo é suficiente para o autor da crítica ser tachado de direitista, no que essa expressão teria de pior. E aqui vai uma observação que venho fazendo de maneira recorrente: essa divisão obtusa entre direitistas e esquerdistas é lamentável, insignificante. Há pessoas dignas e as não-dignas. Ponto final.
     A uso dessas expressões remonta à Revolução Francesa e à ocupação de espaços na Assembléia Nacional. Os liberais girondinos, que defendiam o fim dos privilégios da nobreza e a igualdade de todos perante às leis, sentavam-se à direita. Já os jacobinos ('esquerdistas'), defendiam exatamente as mesmas coisas, mas pregavam a prevalência de um regime centralizador. Não havia a conotação atual, que tende a ser enganosa.
     Aos chamados 'esquerdistas' brasileiros tudo é permitido, inclusive o assalto aos cofres públicos, pois seria feito em nome de uma causa maior. A estupidez avassaladora do ex-presidente Lula, suas articulações e os acordos deletérias com o que há de pior no mundo político são perdoados. Segundo Dilma Rousseff e enorme parcela dos nossos formadores de opinião, o mais medíocre dirigente supremo de toda a história brasileira, o homem que mentiu e voltou a mentir sobre o escândalo do Mensalão é um "estadista".
     Os quadrilheiros apontados pela Procuradoria Geral da República, por serem de esquerda (os líderes, pelo menos), merecem toda a simpatia de grande parte da nossa inteligência. Do apoio descarado à conivência entre quatro paredes. Excetuando um ou outro personagem, não li ou ouvi qualquer manifestação substancial das nossas elites esquerdistas contra os ladrões que desviavam dinheiro público para financiar suas campanhas e encher os bolsos.
     Quando não há um apoio explícito, esbarramos com o silêncio constrangedor de críticos ferrenhos do liberalismo, como, por exemplo, o outrora 'combativo' escritor Luís Fernando Veríssimo, que vem passando longe do julgamento do Mensalão, em seus artigos semanais, para meu desgosto e, acredito, de muita gente.
     Repito o que disse ao amigo que entreviu pendores direitistas nas minhas crônicas diárias: enquanto a esquerda brasileira for sinônimo de desvio de verbas e de conduta - como é, inegavelmente -, aceitarei com tranquilidade a 'pecha'.
     PS: Já não passou da hora de Chico Buarque de Holanda, uma quase unanimidade nacional, entoar seu Sanatório Geral?

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