quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Contradições e desafios

     Entre as muitas coisas que deploro, especialmente em períodos eleitorais, destaco a subserviência de tanta gente aos interesses pessoais. Há quem venda a alma e atropele qualquer resquício de escrúpulo. Não é uma característica específica de uma ou outra profissão, mas - infelizmente - revela-se forte no jornalismo. Ao desvio ideológico soma-se irremediavelmente a necessidade de sobreviver, muito forte em uma profissão que historicamente paga mal e que invariavelmente atrela seus membros aos governos.
     Não é um fenômeno recente. Nas redações antigas - e eu comecei minha vida profissional em uma 'bem' antiga -, era comum a divisão de tarefas: parte do dia no jornal; e a outra parte em uma sinecura oficial, não muito exigente em relação à assiduidade. Por óbvio, seria impossível exigir independência de quem dependia dos cofres públicos para sobreviver. Essa realidade teve seu apogeu na década de 1950
     Essa realidade mudou através dos anos. A profissão ganhou estofo, passou a exigir mais. Aqui no Rio, dois jornais foram fundamentais nessa mudança de perfil: O Globo e o Jornal do Brasil. A dependência de benesses oficiais caiu drasticamente. Já era possível ao jornalista comum, sim, viver com um mínimo de dignidade. E surgiram gerações de altíssimo padrão.
     A redemocratização gerou um novo profissional, mais participativo, atuante e público. Mas gerou, também, um ente engajado politicamente. E esse ente, a partir de um determinado momento (a eleição de Lula), reeditou uma prática antiga: a participação em governos, direta e/ou indiretamente, movido pela ideologia e/ou pela necessidade de sobrevivência financeira, em um período de crise no setor, amainada pela expansão das novas formas de mídia, através da internet.
     Atentos a esse fenômeno, os mentores do atual projeto de Poder atraíram uma enorme tropa de 'formadores de opinião', pagos com recursos públicos. É uma tropa sempre disposta a deturpar fatos, escamotear verdades, defender o indefensável, incluindo o tal 'controle social da mídia', a velha censura contra a qual gerações mais antigas lutaram.
     Sem qualquer resquício de dignidade, pregam o golpe nas instituições, ao se voltarem contra elas, como no caso dos ataques hidrófobos ao Supremo Tribunal Federal e à imprensa, Veja em especial. Para essa turma, os melhores exemplos de 'justiça' estão na Venezuela do limitado Hugo Chávez e na Argentina de Cristina Kirchner, paladinos do ataque à liberdade de expressão. Para nos limitarmos a essa sofrida América do Sul. Ou em Cuba, o paraíso da opressão, a mais antiga ditadura do mundo, tão medíocre e estúpida quanto a da Coréia do Norte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário