sábado, 15 de setembro de 2012

Meus personagens intoleráveis

     Nunca fui muito tolerante, tenho que admitir. Com o passar dos anos, essa minha intolerância aumentou. Se há alguns anos eu talvez não ligasse, ou relevasse, hoje não levo a sério nem aturo determinados personagens presentes no nosso dia a dia.
     Um deles é o cabra que usa óculos no alto da cabeça. Normalmente são óculos escuros, seja dia ou noite, chova ou faça sol. Nesses casos, o item é apenas e tão-somente um adorno, para compor o que o sujeito pensa que é uma identidade. Quando posso - e quase sempre posso - não dou sequer bom-dia. Passo direto, olhando para outro lado e procurando não ouvir as imbecilidades que o indivíduo certamente está dizendo.
     Também não tenho a menor paciência com cantores que fazem caras e bocas para acentuar alguma característica que acreditam ser marcante. Acho que posso garantir que jamais comprei um LP, CD ou DVD de alguém fazendo caretas durante uma música. Lembro sempre de Frank Sinatra.
     Pode parecer preconceito - e é, com certeza -, mas não escalaria no meu time qualquer jogador com corte de cabelo moicano, ou seja lá o que aquilo for. E se o cara é daqueles que pintam ou descolorem a crista, então, nem no banco ficaria.
     E já que estamos em campo, lembrei de outro personagem deplorável e que, por incrível que pareça, faz sucesso nas nossas emissoras de tevê: o narrador esportivo verde-e-amarelo que, além de tudo, se acha um eleito dos deuses, trata os que estão à sua volta com aquela 'simpatia' dedicada aos seres inferiores. Quando não há outro jeito, quando sou obrigado a sintonizar o canal de um desses, uso a tecla 'mute' sem pensar no amanhã.
     Esquerdista de botequim também me causa brotoejas, quando não provoca engulhos. Levanto da mesa na hora em que as citações de Marx e Lênin começam a ser enunciadas, ou até mesmo antes, na fase de 'aquecimento', quando a conversa começa a enveredar sobre 'imperialismo'. Esconjuro e vou em frente. Eu sei que o cara, na verdade, está querendo 'pegar' a mulher mais próxima, ou vice-versa.
     Analfabestas - expressão criada por meu falecido sogro para designar um cunhado que ele não tolerava, com toda a razão - também me dão coceira. Saio de perto ao primeiro "Veja bem ...", quase sempre seguido por um sorrisinho 'inteligente', ou um franzir de sobrancelhas. Já escrevi aqui que meu sogro foi a pessoa que mais bem definiu o ex-presidente Lula, em termos mais - digamos - 'cristãos'.
     Aliás, tenho que confessar que petistas em geral me causam náuseas irrefreáveis. Aquele ar iracundo, aquela expressão de severidade que usam para dizer as mais aterradoras idiotices ou justificar roubalheiras reviram meu estômago. Não resisto a 30 segundos de discurso da presidente Dilma por exemplo. Até por que não entendo direito o que ela diz, principamente quando improvisa.
     Teria outros exemplos - apresentador de programa de tevê que finge supresa em cenas que são claramente combinadas e âncoras de jornais que exploram o estilo informal também me fazem trocar alucinadamente de canal -, mas perdi a paciência de citar essa gente.

2 comentários:

  1. Gostei dos tipos que Vc. descreve no artigo. Acrescentaria a "gostosa" que não é nada gostosa, mas se acha, fazendo caras e bocas, e o vendedor de loja que não quer vender. Vc. chega, pergunta alguma coisa, e antes de terminar ele diz: "Não tem não". Nem ouve direito o que Vc.quer...Para esse, também perco a paciência...(Paulo Fernando de Figueiredo)

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  2. Na verdade, o comentário não é anônimo. Por uma falha qualquer, saiu sem o crédito: Paulo Fernando, um dos meus mais recentes antigos amigos.

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