domingo, 30 de setembro de 2012

Escrachos e ratazanas

     Eu insisto, vou insistir sempre. Mas admito que é difícil - muito difícil, mesmo! - manter as esperanças no Brasil ao avaliar algumas perspectivas reais que se apresentam com as próximas eleições municipais. Uma das mais chocantes, pelo menos para mim, é vitória praticamente certa do candidato Ratinho, filho do apresentador de televisão homônimo, na disputa pela prefeitura de Curitiba.
     Não estamos falando da prefeitura de Ponte Alta do Tocantins, portão de entrada para o Jalapão, a região que mais me encanta no país. Lá, há quatro anos, vivi a efervescência da disputa eleitoral e jamais esqueci a música de um dos candidados, Clayton Maia, não por acaso o vencedor, espalhada diariamente pela cidade, graças a uma frota insuportável de carros de som. Dizia a letra:

     "Do lado de lá, a coisa 'tá' feia;
     Do lado de cá, o povo leva peia".
     Os dois 'lados' explorados na 'composição' referem-se às duas partes da cidade, dividida pelo belo Rio Ponte Alta, límpido, apesar de cruzar uma área urbana. Mas eu estava em Ponte Alta e 'entendia' o padrão da disputa. Jamais poderia imaginar algo semelhante em Curitiba, uma cidade considerada padrão, um símbolo, usada pelas grande marcas para testar produtos que só depois são levados ao resto do país.
     Aqui no Rio - sem entrar em julgamentos políticos ou ideológicos - o nível das candidaturas e candidatos majoritários é superior, em muito, à maior parte das cidades. Assim como em São Paulo. Mas o padrão dos candidatos à Câmara Municipal carioca - a que mais me afeta diretamente - remete aos grotões.
     O horário eleitoral é um verdadeiro desfile de horror, destaque para uma dupla (pai e filho) seriíssima candidata a resultados estratosféricos (o pai é deputado estadual e quer perpetuar o poder familiar). O - digamos - 'bordão' da parelha é 'escracha', com um evidente ponto de exclamação. Nada poderia ser mais lamentável e sintomático de uma era que insiste em levar o país ao atraso.
     O Brasil, que se orgulha de ter retirado 40 milhões de pessoas da pobreza, aprofundou ainda mais a miséria cultural de seu povo. É um país que a cada ano fica mais escrachado e à mercê de ratinhos e ratazanas.

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