sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Manifestação de demagogia

     Contra quem está investindo o governador Sérgio Cabral, no caso da distribuição republicana dos royalties provenientes da exploração do petróleo? Contra os deputados do seu partido, o PMDB, que aprovaram o texto da lei que está à espera do aval da presidente Dilma Rousseff? Contra a bancada do PT, majoritária? Contra as lideranças partidárias que compõem a base de apoio do Governo Federal? Contra os demais estados e municípios que vão receber? Em extremo: a manifestação que ele preparou para segunda-feira será uma advertência à própria presidente, uma espécie de "não seja besta de aprovar isso, se quiser continuar com meu apoio para sua reeleição!".
     É claro que não. É apenas e tão-somente mais uma vigarice destinada a recompor a imagem que ele viu ser soterrada com a revelação de suas ligações com o empresário Fernando Cavendish, ex-dono da empreiteira Delta, a ex-queridinha do PAC e que foi apontada como fonte de corrupção.
     O enredo é absolutamente surrado. Para evitar a catástrofe, como diria o 'filósofo' Neném Prancha, personagem do jornalista João Saldanha, o negócio é 'arrecuar os arfes'. No caso, desaparecer do cenário público por algum tempo e esperar por um fato que possa ser explorado e que conte com o apoio quase generalizado da mídia. Foi o que aconteceu.
     O Congresso - dominado pela base governista e que só decide o que o Palácio do Planalto deixa , é bom não esquecer - deu a Cabral o argumento que precisava, um inimigo comum para apresentar ao povo fluminense, uma bandeira para ele desfraldar em um palanque, sem medo de receber uma saraivada de ovos podres. A distribuição dos royalties - na imaginação de Cabral - seria o que a Inglaterra foi para a ditadura argentina e continua sendo para essa lamentável presidente Cristina Kirchner: um fator aglutinador de ódio; algo que desvia as atenções, angaria simpatias.
     Não a minha, pois continuo irredutível em um ponto que venho defendendo há muito tempo: as riquezas provenientes da exploração de um bem natural, como o petróleo, devem ser democratizadas, pois pertencem a todo o povo brasileiro, e não a fluminenses ou capixabas. É claro que os estados produtores devem receber uma compensação extra, pelos problemas decorrentes da exploração. Mas apenas isso: uma compensação.
     Para mim, continua sendo inconcebível discriminar os brasileiros que não foram beneficiados por essa 'roleta geológica'.
     E, antes que eu esqueça: para um estado que se anuncia à beira da falência, chega a ser um acinte programar uma manifestação para um dia de semana, normal, que será transformado em um feriado informal. Vigarice em dose dupla.

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