domingo, 4 de novembro de 2012

Entre a canalhice e a dignidade

     Excetuando declarações de um ou outro destaque petista, não houve uma reação vigorosa e coordenada às últimas denúncias do publicitário Marcos Valério, operador do Mensalão do Governo Lula, o maior assalto aos cofres públicos já registrado nesse país. As informações prestadas pelo empresário à Justiça, em depoimento formal - dando conta da participação efetiva do ex-presidente e de outros proeminentes companheiros no escândalo mais recente e nos fatos que se sucederam ao assassinato do ex-prefeito Celso Daniel, em 2002 - foram atribuídas não ao acusador, mas, e como sempre!, à tal mídia e às elites.
     Já escrevi sobre isso algumas vezes. A cúpula petista claramente preserva Marcos Valério. Jamais li ou ouvi José Dirceu, José Genoíno ou Delúbio Soares acusarem o ex-assecla. A direção do partido também evita provocações, finge que desconhece as origens das acusações, transfere responsabilidades, quase sempre para uma tal 'direita' e empresários de comunicação. Como se aliados e parceiros de Fernando Collor, José Sarney e Paulo Maluf tivessem o direito apontar o dedo contra alguém.
     Ontem, em um dos raros rasgos de revolta, um dirigente petista de segundo escalão teve a indecência de dizer que o PT está pagando por ter se deixado envolver pelo publicitário, ou algo bem parecido. É isso mesmo. Ingênuos e doces, os dirigente petistas - por essa 'versão' - teriam sido envolvidos por uma espécie de personagem diabólico, um 'coisa ruim' que subverteu suas almas. Talvez tenha sido a defesa mais melancólica já esboçada nesses últimos anos.
     Embora alijadas do processo do Mensalão, ainda em fase final, as novas denúncias contribuem para que a situação dos já condenados fique ainda mais complicada. Será muito difícil fazer com que a sociedade aceite penas reduzidas para o grupo político. Sabemos que o ministro Joaquim Barbosa será rigoroso na dosimetria.
     O embate ainda não terminou e novas frentes estão se abrindo. A Justiça - através da Procuradoria Geral e do próprio Supremo Tribunal Federal - terá que responder à altura. Abstraindo-se a militância exacerbada, e quase sempre bem paga, há a expectativa de uma resposta definitiva ao desafio entre a conivência com a canalhice e a dignidade.

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