segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Diversionismo à moda do Planalto

     Quase todas as frases ditas pela presidente Dilma Rousseff na entrevista publicada pelo jornal espanhol El País e reproduzida, entre outros, pelo O Globo, são absolutamente vazias e/ou tangenciam a demagogia retórica que faz parte do discurso oficial do Governo nos últimos dez anos. Normalmente, não se consegue extrair alguma coisa útil dos seus discursos ou falas, por desconexos e construídos de maneira - digamos - heterodoxa, no que se refere especialmente à gramática.
     Quando se refere ao julgamento do Mensalão do Governo Lula - o maior assalto institucional aos cofres públicos, não custa lembrar -, suas palavras esbarram no cabotinismo. "Há muitos procedimentos legais nesse terreno e, como presidente, não posso me manifestar sobre decisões do STF", disse Dilma. É evidente que há 'procedimentos legais', pois trata-se de um julgamento. Se fosse uma exposição de equinos, com certeza teríamos muitos relinchos.
     Em seguida, a presidente admite que "acata" as decisões, como se pudesse não acatá-las, ou manipulá-las, como acontece nos nossos vizinhos bananeiros, destaque para Venezuela e Argentina, países governados por campeões do desrespeito às leis. Mas, contrariando o que acabara de garantir, lança a seguinte combinação de palavras, com aquele estilo que caracteriza as administrações petistas: "O que não quer dizer que nenhuma pessoa neste mundo de Deus esteja acima dos erros e das paixões humanas".
     Traduzindo o que a presidente disse nessa língua que parece com o português: os ministros do Supremo condenaram pobres inocentes, influenciados pela mídia e pela elite. Não poderia ser mais lamentável. E não me detenho, sequer, no tal "mundo de Deus", uma enorme e recorrente bobagem. A grande questão está, justamente, no fato de ela estar claramente criticando uma decisão da Justiça, num país em que os poderes são independentes.
     O diversionismo, porém, vai além. Com a placidez dos que imaginam que o mundo dos homens é incapaz de raciocinar, a presidente afirma que é "radicalmente a favor do combate à corrupção, não só por uma questão ética, mas por um critério político". Por isso seu partido e seu guru se aliaram de corpo e alma ao deputado Paulo Maluf (procurado pela Interpol) e ela foi obrigada - é isso mesmo, obrigada!!! - a dispensar sete ministros corruptos, todos "a pedido" e com louvações na despedida.
     Por ter um "critério político", mantém no primeiríssimo escalão seu amigo de longa data, o ministro do Desenvolvimento Fernando Pimentel, aquele mago das palestras e consultorias que recebeu quase R$ 2 milhões para ficar de boca fechada, logo depois de ter saído da prefeitura de Belo Horizonte e pouco antes de assumir a coordenação da campanha pesidencial de 2010.
     Não faltou sequer a afirmação grotesca de que "poucos governos fizeram tanto pelo controle do gasto público como o do presidente Lula". Para uma plateia idiotizada e desinformada, essas bobagens até que fazem efeito. Para quem se dá ao trabalho de verificar o ritmo alucinante da gastança pública nos últimos anos, frases assim soam como um ofensa.

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