sexta-feira, 11 de março de 2011

A verdade, pura e simples

     Há um tema que vem me desafiando há alguns dias: a iminente criação da Comissão Nacional da Verdade, destinada, segundo seus proponentes, a resgatar parte da história que foi sepultada com a Lei da Anistia, promulgada em 1979 e convalidada recentemente pelo STF, por sete votos a dois. Por ela, crimes e criminosos foram perdoados, independentemente da motivação política.
     A ministra Carmem Lúcia, quando do julgamento no STF de ação proposta pela OAB, questionando a anistia a agentes do Estado responsáveis por torturas e mlortes, foi absolutamente didática ao afirmar que é necessário considerar o contexto do período em que a Lei foi negociada: "Não vejo como julgar o passado com os olhos apenas de hoje", disse, na época.
   
    Talvez esteja nessa frase na ministra a síntese de tudo: a impossibilidade da isenção. No caso brasileiro, em especial, a transição de regime militar para a democracia foi amplamente negociada em todos os níveis da sociedade. Havia uma irresistível vontade de reunificar o país, de cicatrizar enormes feridas. O remédio evidentemente foi amargo, mas renovou as forças da nação, que soube avançar e construir as bases para um futuro de liberdade. 
     É óbvio e plenamente compreensível que um respeitável contingente de brasileiros ainda relute em aceitar o perdão indiscriminado. São pais, mães, esposos, filhos, irmãos, amigos dos ainda hoje desaparecidos e dos comprovadamente mortos quando prisioneiros. Talvez seja mesmo impossível perdoar agentes supostamente da Ordem que exorbitaram, transformando-se em meros e sádicos criminosos. Talvez seja mesmo impossível viver sem saber onde seus parentes foram mortos e enterrados, sem a evidência física da violência. 
     Mas não se pode esquecer que há, também, um grupo tão importante de pais, mães, filhos etc de vítimas inocentes da luta política, sacrificadas pelos que se opunham e lutavam contra o os governos de então. A essas pessoas também seria dado o direito à - vamos chamar assim - verdade?
     A verdade, e eu acredito nela, deve ser uma busca constante do homem, das sociedades. E por isso deve ser bem-vinda, sempre. Desde que não seja atrelada a uma visão distorcida e amargurada de quem, passados tantos anos, ainda rumina desejos de vingança.

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