domingo, 13 de março de 2011

Mão única na Líbia

     As limitações à interferência em assuntos internos das nações - um preceito que deveria ser pétreo nas relações internacionais - está criando um enorme e aparentemente insolúvel impasse na discussão sobre o futuro da Líbia. Em certo momento da insurreição que tomou conta do país, o ditador e terrorista Muammar Kadafi pareceu, aos olhos de todos nós, que estava encurralado e que sua queda seria uma questão de dias.
     O mundo, acreditando nesse desdobramento da crise, apostou num final semelhante ao do Egito. E limitou-se a emitir sinais de desaprovação aos atos de violência indiscriminada contra a população. França e Portugal, antecipando-se a outros países, anunciaram que não reconheciam mais o governo de Kadafi. Uma medida de bons efeitos midiáticos, mas de reduzida efetividade. Agora, são os países da Liga Árabe que já não reconhecem o ditador.
     Talvez seja tarde. Usando a força da fortuna que acumulou em 41 anos de poder e saqueando os cofres do país, Muammar Kadafi vem conseguindo reconquistar o terreno perdido nos primeiros dias da revolta, usando de todos os meios que estão à sua disposição.
     E o que vai fazer o mundo, caso prevaleça a reconquista de poder que vem se esboçando? Entrar em guerra com uma nação independente? Repetir os erros americanos no Iraque? A encruzilhada que se adivinhava está se tornando um caminho de mão única.
    
     PS: Ninguém precisa procurar motivos, nem desculpas, para, enfim, condenar o regime líbio. Eles sempre estiveram por lá, embora muitos teimassem em ignorá-los. A prisão de um jornalista brasileiro, no entanto, não deve ser vista como uma dessas razões. A violência contra o ser humano, sim. Nada justifica a coronhada que o correspondente do jornal O Estado de São Paulo recebeu, ou os dias que passou em uma solitária. Mas a detenção, em si, não foi ilegal (embora imoral), já que o repórter entrara no país sem o visto necessário. Para os que olham o mundo sem uma deturpada dicotomia, a Líbia - uma das ditaduras queridinhas do governo brasileiro passado - é um país terrorista há muito anos, e não apenas há uma semana.

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