quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Verdades e mentiras sobre a 'saúde' de Chávez

     Acho que muita gente ainda lembra da foto do presidente Tancredo Neves, pouco antes de sua morte. Tancredo aparece sorrindo, ao lado da equipe médica que o atendia, como se estivesse em plena recuperação e pronto para assumir o cargo que acabou no colo de José Sarney, por artes e manhas do então ministro do Exército, general Leônidas Pires Gonçalves.
     Na verdade, Tancredo estava amparado para não desabar. Na época, a farsa objetivava garantir a estabilidade institucional necessária à passagem para o regime democrático. Embora os propósitos fossem razoavalmente decentes, os meios usados ainda eram um resquício dos tempos do regime militar.
     No caso venezuelano, toda a especulação - incluindo, aí, a tal foto falsa de Hugo Chávez publicada pelo jornalão espanhol El País - é fruto, justamente, do viés totalitário e antidemocrático que assalta nosso vizinho. Em democracias que se prezam, as condições de saúde de um chefe de estado não devem, sob qualquer hipótese, ser escamoteadas da população.
     O que se assiste, na Venezuela, é a um rito bananeiro e vergonhoso, no qual as leis do país e direito do povo à informação são atropeladas pelos interesses de um grupo político, independentemente de ter, ou não, o apoio da população. O fato, esse, sim, incontestável, é que Hugo Chávez está apartado do mundo desde que, em dezembro, viajou para a ilha dos irmãos Castro para mais uma cirurgia destinada a combater um câncer devastador.
     O que se sabe de sua 'saúde' sai da boca de seus auxiliares diretos, entre os quais o presidente interino e ilegal Nicolás Maduro. A semelhança com o caso brasileiro é, como se vê, muito forte, pois a presidência da 'República Bolivariana' deveria ter sido assumida pelo presidente da Assembleia, Diosdado Cabello. No Brasil, a possibilidade de o Governo ser entregue ao então deputado e presidente da Câmara, Ulisses Guimarães, alimentou os acordos que levaram Sarney ao Planalto.
     A 'barriga' monumental do El País - que se desculpou formalmente da falha - serviu para Nicolás Maduro e seus comparsas, como fazem todos os políticos totalitários, desviar em o foco do tema principal. O governo venezuelano acena com manobras internacionais destinadas a desestabilizar a Venezuela. Mais uma das enormes bobagens que fazem parte do be-a-bá dos ditadores. Deveria, por decente, apresentar as provas irrefutáveis de que Hugo Chávez está se recuperando.
     Mas isso, pelo que se pode presumir - em regimes autoritários, nada é transparente -, está longe de ser possível.

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