domingo, 20 de janeiro de 2013

Verdades brasileiras

     A manchete de hoje do O Globo - 'Em municípios novos, vida não melhorou' - encerra duas grandes verdades e uma constatação. Vou começar pela constatação: há 30 anos (e não sei se isso é bom ou ruim), jornal algum publicaria um título na ordem inversa. O redator que ousasse seria atingido pelo peso dos manuais que prezavam, antes de qualquer coisa, construções claras e objetivas, com andamento perfeito.
     Um antigo companheiro da redação do Jornal do Brasil, com quem convivi na época em que trabalhei no velho Copy (uma verdadeira instituição, acreditem, da qual eu me orgulho de ter participado) criou uma expressão para designar o título perfeito, especialmente aquele em duas linhas, mas que servia para todos os demais: 'boca de bode'. Segundo ele, não havia nada mais certinho do que boca de bode. Duque Estrada! Esse era o nome desse companheiro de redação.
     Voltemos às verdades. A vida da população, em geral, de fato nada mudou com a elevação de seus distritos à categoria de municípios. Basta andar por aí, pelo Brasil - como eu venho fazendo sistematicamente nos últimos 25 anos - para ver que a falta de serviços básicos continua a mesma.
     A outra verdade, no entanto, se contrapõe à constatação principal: a vida nos novos municípios melhorou muito, sim, para a legião de prefeitos, secretários, vereadores e apaniguados que sempre surge atrelada a governos, de qualquer matiz. Municípios que não produzem sequer para pagar despesas mínimas, que vivem basicamente de repasses de verbas federais, criam gerações de funcionários e folhas salariais que inviabilizam qualquer projeto.
     Nascem na esteira de interesses políticos, transformando-se em currais eleitorais à disposição de deputados estaduais, federais, senadores, governadores e - no fim - presidentes. Sobrevivem de emendas, amplamente divulgadas por placas comemorativas com o nome do 'benfeitor'.
     Retratam - esses municípios - o desprezo que políticos profissionais têm pelo país. Acima da lógica, da boa condita administrativa, do respeito à realidade, prevalecem os interesses mais mesquinhos. São as verdades brasileiras.

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