sábado, 19 de janeiro de 2013

A crise dos partidos

     Embora absolutamente crítico, defendo intransigentemente os partidos políticos como expressões da diversidade de pensamentos da sociedade. É bem verdade que, no nosso caso, não há sociedade suficiente para três dezenas de agremiações, como temos por aqui, a maioria meras siglas alugadas ou vendidas, não necessariamente nessa ordem. Mas não deixa de ser preocupante a constatação feita pelo Ibope - e divulgada pelo Estadão - de que mais da metade da população (56%) não tem afinidade com qualquer partido. Um percentual que cresceu significativamente nos útimos anos.
     Fica claro, em primeiro lugar, que mensagem dos partidos políticos não chega à sociedade. Ou, quando chega, tem o efeito inverso do que, em tese, buscaria: afasta eventuais e possíveis seguidores. De qualquer modo, para mim, essa constatação espelha um enorme retrocesso, pois o processo político claramente privilegia pessoas, seres iluminados, e não um projeto político.
     Esse fenômeno sempre esteve presenta no Brasil, como maior ou menor representatividade. Não por acaso o século passado foi marcado pelo gaúcho Getúlio Vargas, um exemplo clássico de caudilho que exerceu o poder graças a seu inegável carisma. A história da América Latina é recheada de exemplos semelhantes, como o argentino Juan Perón, cujos seguidores, décadas após sua morte, continuam sendo determinantes no processo político do país.
     Nos tempos modernos, e mantendo o raciocínio restrito à América do Sul, temos o exemplo clássico do venezuelano Hugo Chávez, cuja presença no imaginário da população se sobrepõe a qualquer avaliação crítica de seu comportamento claramente antidemocrático. No Brasil, em escala menor, há o fenômeno Lula, muito maior do que o partido que ele ajudou a criar.
     É muito ruim, para um país, quando a sociedade transfere suas expectativas para personagens, e não para as propostas desses peronagens. Em condições menos favoráveis, é o primeiro passo para a instalação de governos autoritários e naturalmente corruptos.

2 comentários:

  1. Esse é um dos pilares da democracia: os partidos políticos como expressão da diversidade de pensamentos da sociedade. Quanto a isso, penso, não há dúvida. Mas, então, se nos Estados Unidos, França ou Reino Unido, por exemplo, democracias muito mais antigas e consolidadas que a nossa, existe um número reduzido de partidos, como explicar termos aqui mais de trinta? É óbvio que a nossa sociedade não tem maior diversidade de pensamento político do que têm os cidadãos daqueles países.
    Essa proliferação de siglas que nada representam visa apenas à obtenção de vantagens pessoais. Além disso, não há, em geral, nenhum comprometimento dos políticos com aspectos ideológicos. Quem é de um partido hoje, pode ser de outro qualquer amanhã, e isso ocorre com frequência. Ninguém sabe ao certo qual a plataforma política dos partidos ou mesmo a sua real tendência ideológica.
    A revelação de que 56% dos eleitores não têm afinidade com qualquer partido não me surpreende. Pelo contrário, eu achava até que essa porcentagem fosse bem maior.
    Eu mesmo me incluo entre esses "alienados", muito embora por razão diversa. Não reconheço, como já lhe escrevi outras vezes, qualquer agremiação política com a qual me identifique. O que temos são dezenas de partidos de esquerda (alguns extremados) ou de centro-esquerda, sem contar alguns absolutamente "amorfos"...
    No Brasil, vota-se no candidato, pelo que se espera dele, e não pelas ideias políticas que ele defende, ou melhor, quando defende alguma...

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  2. Também não sou filiado a qualquer partido político, Paulo. Mas me identifico com as propostas e postura de alguns (três ou quatro), em determinados momentos e eleições específicas. Historicamente, votei no MDB. Tenho votado em representantes do PSDB, PPS e PV, por exemplo. Vejo com muito agrado a possibilidade de o PV ampliar seu espaço político, assim como deploro esse domínio exercido pelo PMDB e pelo PT, ambos marcados pelos mais vergonhosos escândalos. Mas, antes de tudo, lastimo produndamente o culto à personalidade, o messianismo. Obrigado pelas considerações. O espaço do Blog continua aberto para você.

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