A solução foi alterar a estrutura do Curso de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR), até então absolutamente risonho e franco, distribuído ao logo de dois anos, nas férias dos necessariamente universitários que não escapavam do serviço militar. Minha turma - a de 1967 - foi a primeira, de fato, a adotar o novo currículo, de forma integral. A anterior dera a partida.
Os meses de férias se transformaram em um ano intenso e rigorosíssimo, posso testemunhar. Para mim, que morava em Marechal Hermes, chegar ao quartel - que funcionava ao lado da Quinta da Boa Vista, onde hoje existe o Museu do Exército, em São Cristóvão - era um desafio diário. Para estar em forma, fardado e brilhando, como exigiam nossos instrutures, acordava diariamente às 4h30. Banho, barba, café rápido, uniforme e uma boa caminhada de uns dez minutos até a estação do trem, que passava às 5h20, noite ainda. No inverno era um horror.
Quarenta minutos depois estava na estação de São Cristóvão, para mais uma 'marcha' até o quartel. Quando dávamos sorte - eu e mais dois ou três colegas que usavam o mesmo trem -, conseguíamos uma carona com um dos raríssimos companheiros que tinham carro. Em 1967, carro era item de luxo, mesmo. Às 6h30 estávamos começando a entrar em forma. Os atrasos não eram tolerados. A punição era pernoitar no quartel no fim de semana.
No pátio, preparados para mais um dia em Tubiacanga
Nos três primeiros meses, a dolorosa transformação de jovens descompromissados e que se sabiam passageiros (ou futuros temporários, que é a expressão correta) em militares foi muito além da máquina zero. Nas salas, uma bateria de aulas teóricas sobre os mais diversos temas, entre os quais os intrincadísimos - pelo menos para mim - problemas sobre trajetória, com todas aquelas equações físicas (corrija-me, Paulo, velho amigo, brilhante coronel e presença constante aqui no Blog, se estiver cometendo algum erro).
Tudo isso, intercalado com incursões semanais (sempre às terças-feiras) ao campo de instruções dos Fuzileiros Navais, em Tubiacanga, na Ilha do Governador, para aprender a rastejar, cavar trincheiras, organizar ataques, defender posições. Os treinamentos de tiro (mosquetão - que coices!!! -, pistola, metralhadoras INA e .30, morteiro) eram feitos em Gericinó, onde também aconteciam os temidos exercícios de fuga e evasão: caçados - mesmo!!! - por grupos de 'paraquedistas inimigos', tínhamos que nos embarafustar pelas matas, noite a dentro, até chegar ao acampamento, antes de o sol nascer.
Desfilando na Presidente Vargas: eu estou lá no meio, encoberto.
(*) A punição a que refiro foi coletiva (um grupo de cerca de 20 alunos) e provocada por manobras não muito 'ortodoxas', em um dos exercícios de fuga e evasão.
(**) Para facilitar e cansar menos, aprendemos a enganchar o 'dedão' da mão direita no dólmã, o que facilitava carregar a arma, no caso, os velhos mosquetões que estavam sendo substituídos progressivamente pelos Fuzis Automáticos Leves (FALs).
(***) As duas fotos publicadas aqui no Blog me foram cedidas por um companheiro de quartel, Américo Cavalheiro Filho. Américo é filho de um grande e querido ex-companheiro dos Diários Associados.
Fico contente com seus comentários, pois eles transmitem a ideia de que um período assim, de um ano, vivido tão intensamente, deixou boas recordações. Isso confirma a certeza que tenho, fruto de observação em 32 anos de serviço, de que quase todos os que viveram experiência semelhante são gratos ao Exército e reconhecem que ali aprenderam muito para a vida.
ResponderExcluirGrande abraço, meu amigo tenente Marco Antonio Gonçalves Ribeiro.
Não há dúvida que foi um ano extremamente marcante, Paulo. Assim como o seguinte, passado em parte no REsI.
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