quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Um certo dia de outubro, há 45 anos

     Há 45 anos, no dia 8 de outubro de 1968, entrei pela segunda vez em uma redação. Na primeira, quatro dias antes, eu me apresentara a Rubem Cunha, secretário do O Jornal, o 'órgão líder dos Diários associados', levando comigo uma carta de apresentação do diretor do Instituto Superior de Jornalismo (solicitando um estágio) e a determinação comum aos jovens de 20 anos.
     Rubem, que trabalhara com meu diretor e professor, foi atencioso, explicou que eu não teria salário (naquela época, não havia estágio remunerado, pelo menos nos domínios Associados) e marcou minha apresentação para a segunda-feira seguinte, no quinto andar do velho prédio da Rua Sacadura Cabral, 103, ali pertinho da Praça Mauá. Sem compromisso. Tudo dependeria do meu desempenho.
     Eu deveria procurar o subchefe de reportagem da Agência Meridional, José Miziara, pela manhã (a redação do O Jornal funcionava no terceiro andar e a do Jornal do Commercio no quarto). Ele já estaria informado da nova aquisição. À tarde, eu seria apresentado ao chefe geral, o paraense Evaristo.
     A Agência, invenção diabólica do recentemente falecido Assis Chateaubriand, era a responsável pela produção de textos e posterior distribuição entre os veículos associados e predecessora das demais máquinas de explorar funcionários que se espalharam em todos os jornais. Todos os textos eram produzidos com cópias (usávamos carbono, nessa época ...), retrabalhados por uma equipe de redatores e adaptados ao perfil de cada empresa/cliente.
     De imediato, fui encaminhado a um repórter mais experiente, Ely Miranda, a quem foi atribuída a tarefa de me apresentar o ofício. Ely cobria a cidade, obras. Saía meio sem destino, recolhendo notícias, apontando mazelas. Devo a ele e a Miziara, em especial, as primeiras e decisivas aulas práticas, as correções, os conselhos. Nas duas primeiras semanas, escrevia textos que eram confrontados com os do meu 'mentor', expondo falhas e omissões, na forma e conteúdo.
     Aos poucos, percebi que levava algum jeito. As matérias que produzia faziam sentido. Tanto que, na terceira semana de estágio, fui jogado na rua, em voo solo, a bordo de um dos Gordinis verdes que compunham nossa frota de carros de reportagem. 'Seu' Tião, motorista antigo e conhecedor de todos os atalhos para uma reportagem de cidade, foi meu apoio. Fotógrafos já consagrados, como Ângelo Regato (uma lenda) e Aníbal Phillot (pai de Phillotzinho, meu futuro parceiro de inúmeras matérias), tiveram comigo a paciência que, anos mais tarde, eu me sentia compelido a ter com as legiões de estagiários que passaram pelas minhas chefias.
     Perto do Natal de 1968, após dois meses e meio de trabalho alucinado, quase sempre doze horas por dia, fui chamado por 'Seu' Evaristo, meu chefe maior. "Menino" - era assim que ele se dirigia a quase todos -, "decidi pagar uma gratificação para você, pelo empenho. Passa na caixa, já está autorizado". A tal 'gratificação' correspondia a um salário. E eu precisava muito do dinheiro. Saído recentemente de outro estágio, como aspirante R2 de Infantaria, minhas limitadas reservas - provenientes da minha passagem pelo Exército - estavam no fim. Seria muito difícil continuar arcando com o custo das passagens e das refeições diárias.
     Pouco mais de um mês depois, no dia 1 º de fevereiro de 1969, A Agência Meridional assinou minha carteira de trabalho. A partir daquele momento, de fato e de direito, eu era um repórter. Foram quatro anos e meio nos Associados, três deles, os últimos, no O Jornal, onde percorri todos os caminhos que me levaram de repórter a chefe de reportagem e editor de Cidade. Uma escola inigualável, que me abriu as portas para os muitos anos seguintes, nas redações de O Globo e Jornal do Brasil.

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