domingo, 27 de outubro de 2013

Paixão abalada

     Acompanho o Vasco desde que 'me entendo por gente' (como se dizia 'antigamente'). Já tive muitas tristezas, decepções, aborrecimentos. Os doze anos sem título, de 1958 a 1970, algumas derrotas massacrantes, como as das perdas dos Mundiais do Japão e do Rio, quando merecíamos um pouco mais de sorte. Mas sempre havia muitas compensações, como os quatro títulos brasileiros, os períodos hegemônicos das décadas de 1980 e 1990/início de 2000, destaque para a inigualável conquista da Mercosul naquele jogo com o Palmeiras.
     Apaixonado, jamais abandonei o clube, mesmo nos momentos mais sofríveis. Há algum tempo, no entanto, torcer pelo Vasco vem se transformando em um desgaste emocional intolerável. Os últimos times acabaram com meu prazer de ver os jogos. Já não falo, sequer, da mediocridade dos jogadores, alguns dos piores que já passaram por São Januário em toda a sua história.
     Não há dúvida que eles são medíocres, no que a palavra tem de pior. Mas poderiam, ao menos, compensar a incapacidade técnica com alguma dignidade em campo, em respeito a um passado que essa geração parece desconhecer. Não é o que acontece. A 'jogada' de Wendel, imediatamente antes do gol de empate da Ponte Preta - aquele que abriu caminho para a virada do time de Campinas (2 a 1) -, é o símbolo mais expressivo desse presente lastimável.
     Eu - um mero peladeiro - pressenti o drible ridículo e o gol. Jogador de um clube como o Vasco não pode virar as costas para uma ameaça de chute. Ao contrário: tem que se atirar de cabeça, corpo e mente de encontro à bola, levar um chute na cara se for preciso, para ter o orgulho de apresentar as cicatrizes. Wendel - símbolo desse Vasco que desonra a tradição - optou por defende-se da possível bolada. Levou o drible mais antigo do mundo.
     No meu Vasco, que já foi o do desastroso atual presidente do clube, ídolo da minha geração e de muitas outras mais, um jogador como esse jamais teria lugar.
     É evidente que os goleiros são o que há de pior no mercado, assim como os zagueiros, laterais, armadores e atacantes. Não há mais dúvida que o técnico é lastimável. Mas eu até relevo, em determinadas circunstâncias, a falta de qualidade técnica. Não posso aceitar, no entanto, o descompromisso, a falta de identidade, o desrespeito a uma legião de apaixonados.
     Esse Vasco está me fazendo desistir da minha 'paixão mais antiga'. E isso eu não posso perdoar.

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