sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Contraste médico

     "É a primeira vez?"
     A pergunta foi a senha para eu desabafar, com todas as letras e inflexões, sem perder e calma. Diria, até, professoralmente: "Não, doutor, é a terceira vez que eu venho aqui em um mês. E não sei se vou voltar. Nem se vou seguir suas orientações. Afinal, qualquer paciente precisa de um mínimo de relacionamento com seu médico, para entregar a sua vida a ele".
     A consulta, que teria durado cinco minutos - se tanto!!! -, prolongou-se por meia hora, a partir desse ... digamos ... diálogo, com direito a novas, incisivas e - com certeza - inesperadas colocações. Surgiu um novo médico, então, diferente daquele personagem indiferente, distante, mecânico, mera engrenagem da indústria da medicina que reina, em especial, nos planos de saúde.
     O burocrata que se limitara, nas duas consultas anteriores, a solicitar exames, rabiscados apressadamente nas guias dos convênios médicos, mostrou que pode ser razoavelmente interessado nos pacientes, e não nas estatísticas de atendimento.
     Ao pedido e ao receituário - atitudes puramente mecânicas -, somaram-se as obrigatórias explicações sobre o problema a ser tratado e recomendações sobre atitudes paralelas que podem ajudar nesse início de processo, além de insistentes justificativas para o comportamento anterior, que eu fingi entender. Afinal, o gelo tinha sido derretido.
     Vou fazer o tal exame e tomar a medicação prescrita.

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