segunda-feira, 29 de abril de 2013

Bola fora

     As opiniões que li e/ou ouvi são quase unânimes: o Maracanã ficou muito bonito e confortável. Uma crítica ou outra, como as levantadas pelo O Globo, quanto ao excesso de pessoas dentro de campo, o que dificultaria a visibilidade de determinadas jogadas. Por cerca e R$ 1 bilhão, seria um acinte caso a obra não ficasse apresentável. Na Inglaterra, com esse dinheiro, seriam construidos dois ou três estádios.
     A questão central, no entanto, não é essa. Pelo menos para mim. Já discutia e continuo discutindo a real necessidade de o país gastar tanto dinheiro para sediar uma competição esportiva e não atender às necessidades básicas da - por exemplo - rede de saúde. Hoje, no mesmo jornal que destaca o Maracanã, há uma notícia lamentável: a unidade pediátrica do hospital da UFRJ fechou por falta de equipamentos e pessoal.
     Temos bilhões para reformar estádios - alguns deles permanecerão praticamente sem utilização -, mas não temos alguns mihões para equipar hospitais, escolas, ampliar a segurança pública e investir decentemente em saneamento.
     Aqui, bem ao lado do estádio festejado pelo Rio dos contos de carochinha, passa uma torrente de esgotos, a caminho da Baía de Guanabara. Nas calçadas - destacou o próprio O Globo, há alguns dias, mendigos passam o dia, dormem, defecam e fazem sexo. Do outro lado da linha do trem, quase em frente, funciona um dos maiores entrepostos de drogas da cidade, no Morro da Mangueira.
     O crack, que até já andou na moda do noticiário, espalha-se vertiginosamente por toda a cidade. Há dinheiro para reformar o Maracanã - pela terceira vez, em pouco tempo!!! -, mas não há recursos para programas mais vigorosos no campo da saúde.
     Sou apaixonado por futebol. Mas não há arrgumentos decentes que me convençam que estádios têm prioridade sobre escolas e hospitais. Eles são importantes, sim, pois acolhem paixões e expressões culturais, mas absolutamente complementares.
     Gastos exorbitantes, como os que vêm sendo realizados - sem a necessária auditoria fiscal, pois são regidos por um regime injustificadamente excepcional -, não são cabíveis em um país com tanto por fazer. Extrapolam oa parâmetros da lógica administrativa e só atendem a interesses político-partidários. Não por acaso, nossa presidente vem batendo ponto em cada reinauguração, carregando, na bagagem, seu mentor e guru, o ex-presidente Lula.
     E o vale-tudo ainda está começando.

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