terça-feira, 9 de abril de 2013

A fragilidade da vida

     Há trinta anos, passei por um momento muito complicado, quase fatal. Era um domingo e eu saíra de casa, logo após o almoço, para mais um plantão no Jornal do Brasil. Nessa época, eu tinha o prazer de trabalhar na Editoria de Esportes comandada por Oldemário Touguinhó e João Areosa, dois amigos que já não estão entre nós.
     Como morava na Taquara, optava por usar a Avenida Brasil, passando pelos subúrbios de Marechal Hermes e Deodoro. Estava tranquilo, nesse dia. Como fazia normalmente, saí com antecedência e o trânsito estava ótimo - algo raro atualmente. Seguia pela Rua Xavier Curado, no trecho praticamente reto que acompanha a lateral da Base Aérea dos Afonsos quando meu mundo foi sacudido e jogado violentamente de encontro a um muro.
     Sequer pressenti a colisão. Foi uma batida seca, sem freadas. Um motorista que vinha no sentido contrário simplesmente dobrou à esquerda e bateu no meu carro, de frente. Para ser sincero, só soube que o acidente aconteceu assim algum tempo depois, já no Hospital Carlos Chagas, para onde fui levado por socorristas. Eu desmaiara com o impacto e havia um corte muito grande na cabeça, além de sérias contusões nas pernas, que ficaram presas no emaranhado de ferro. Meu Chevette não sobreviveu.
     O motorista que causara o acidente e que por pouco não provocara minha morte estava alcoolizado. Acabara de sair de um churrasco domingueiro. Fomos atendidos quase ao mesmo tempo. Chegamos a ficar lado a lado, na emergência. Um acidente estúpido que poderia ter me privado da vida.
     A memória desse acontecimento voltou com muita força ontem, após eu ter sobrevivido a um acidente ainda mais estúpido, dessa vez por minha culpa. Ainda estou meio abalado. É assustador sentir que o limite entre vida e a morte é tão tênue. Uma bobagem, uma desatenção.
     Costumo fazer pequenos reparos em casa. Instalações hidráulicas e elétricas mais simples; uma troca de piso quebrado etc etc. Recentemente, reinstalei uma bomba que tem a função de escoar a água que insiste em brotar no meu terreno quando há chuvas constantes, como agora.
     A água é captada em um poço e automaticamente despejada, quando atinge determinado volume. Eventualmente é necessário bombear manualmente a água, para expulsar o ar e facilitar o funcionamento do sistema. Algo simples, bobo, rotineiro. Normalmente uso botas de borracha, de cano alto, que servem como isolantes. Ontem, como não mexeria na parte elétrica, não me preocupei.
     Empunhei o cano ligado à bomba e fui atingido por uma descarga elétrica fortíssima, ampliada pelo fato de eu estar de chinelos, com os pés na água. Por algum motivo, ao empunhar a tubulação, segurei, também, uma parte da fiação, inexplicavelmente exposta., sem isolamento. Foi um longo e doloroso choque. Não conseguia abrir a mão (nesses casos, os músculos se contraem e a pessoa fica presa).
     A corrente foi tão intensa, no entanto, que, para minha sorte, caí para trás, carregando comigo a bomba, que foi arrancada da fiação, interrompendo a descarga. Consegui escapar por um gratíssimo acaso. As emendas dos fios - feitas através de um conector - romperam com o peso da bomba.
     O braço por onde correu a descarga ainda está muito dolorido. Da queda - providencial! -, resultaram várias escoriações. Mas ainda acho que a sequela maior é emocional.
     Nossa vida é muito frágil.

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