sexta-feira, 19 de abril de 2013

A revolta de Marina com a 'ética da circunstância'

     A ex-senadora Marina Silva está inconformada, com toda a razão, com o rolo compressor oficial destinado a eliminá-la formalmente da disputa presidencial do ano quem, votando uma lei que impediria o nascimento real do seu partido, o Rede Sustentabilidade. A turma que está no poder sabe que a presença, no pleito, de Marina e do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), representa uma quase certeza de segundo turno, com consequências imprevisíveis.
     Em 2010 foi assim. Então candidata pelo PV, Marina arrastou vinte milhões de votos e por pouco não superou Jose Serra (PSDB) e foi para a disputa final com Dilma Rousseff. Na ocasião, em virtude das suas características, teria mais chances de vitória do que Serra. Não tenho a menor dúvida. A diferença de 12 milhões de votos (55,7 milhões contra 43,7 milhões, em número redondos) a favor de Dilma talvez não se concretizasse.
     Eu também acho que o Brasil tem um número indecoroso de partidos políticos - algo em torno de 32. Na verdade, e na prática, essas agremiações se transformam em moeda de negociação, graças ao tempo de televisão, em especial. Mas isso jamais incomodou o PT e o Governo, que usam e abusam dos conchavos. Não por acaso, o ex-presidente Lula e o deputado Paulo Maluf trocaram beijos e abraços públicos no ano passado.
     Não é o caso, entretanto, do Rede, que tem - podemos gostar, ou não, dos seus líderes - propostas claras e um grande potencial eleitoral. O grande problema, para a turma que só pensa na reeleição, é o risco que Marina, Eduardo Campos e o senador Aécio Neves (PSDB-MG) representam para o projeto de continuidade. Eventualmente, num possível segundo turno, os três poderiam formatar uma união potencialmente danosa para Dilma Rousseff.
     E, aí, com essa pressão dessa hipótese, vale tudo, como confessou nossa presidente recentemente. Justifica-se, portanto, o desabafo da ex-senadora, reproduzido pela Folha: "Eles anteciparam as eleições e estão fazendo como uma prevenção contra qualquer coisa que possa sair do roteiro. E a forma de continuar no poder é sufocando qualquer ideia nova. Querendo prejudicar uma nova forma de expressão política, aí se comete esse tipo de atrocidade. É a ética de circunstância."
 

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