sexta-feira, 3 de maio de 2013

Repressão e morte

     A notícia sobre os dois adolescentes chineses que cometeram suicídio por não terem conseguido cumprir a contento com suas obrigações escolares reacendeu antigas memórias. No início dos anos 1970 - e essa história faz parte do meu livro que está em fase de edição -, vivenciei, como repórter, um drama semelhante, aqui mesmo, no Rio.
     Os fatos de agora - frutos da enorme competição que marca, em especial, os jovens chineses e japoneses - têm o mesmo componente que levou um jovem morador de um subúrbio do Rio ao suicídio: a expectativa exacerbada dos pais e da sociedade, influenciando diretamente o comportamento de crianças ainda em formação.
     Na China, segundo nos conta Veja, um dos meninos simplesmente pulou do quinto andar do prédio onde morava. O outro, enforcou-se. No subúrbio carioca das minhas lembranças o rapazola pegou a arma do pai - um policial militar - e atirou contra o próprio coração. Não conseguiu enfrentar o insucesso escolar e preferiu morrer a contar ao pai que não passara de ano.
     Ainda hoje, passados tantos anos, a morte desse jovem mexe com meus sentimentos. Não foi fácil entrar naquela casa devastada, conversar com os pais, com o irmão mais novo, com parentes que não paravam de chegar, vizinhos. Num só episódio, duas lições: o risco embutido na posse de armas e a ameaça decorrente de uma educação repressora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário