quarta-feira, 29 de maio de 2013

Violência e trauma

     Se eu pensar na estupidez do assassinato de mais um dentista em São Paulo, devo agradecer pela sorte de a perda do quarto carro que atingiu minha mulher ter terminado, apenas, com prejuízos materiais e emocionais, ontem à noite, aqui na ainda calma e pacifica Pedra de Guaratiba, que se prepara para receber o Papa Francisco.
     Poderia ter sido muito pior, não há dúvida. Os dois jovens (quase adolescentes) que saltaram de outro carro, dirigido por um terceiro comparsa, e a renderam poderiam ter atirado nela e na amiga, que acabara de deixar na porta de casa, por puro prazer. Eles sabem que não ficariam 'apreendidos' por muito tempo.
     Poderiam, e não posso dimensionar o que seria pior, tê-las levado como reféns, no nosso simplório Celta. Poderiam tê-las agredido, ou queimado, ao descobrirem que não levavam dinheiro em espécie, apenas celulares baratos, suas bolsas repletas de tintas e pincéis e o esboço de um quadro que retrata a bela estação ferroviária de Marechal Hermes, onde nos criamos e nos conhecemos.
     Eu sei de tudo isso, mas não consegui, ainda, racionalizar. Além do enorme sentimento de frustração, de impotência, há uma enorme revolta provocada pelo trauma pessoal gerado por esses desajustados e, sim!, pelo impacto no orçamento. De um momento para outro perdemos a tranquilidade e o carro que atendia perfeitamente às nossas necessidades e que planejávamos manter por um bom tempo.
     Das quatro vezes, duas foram furtos. As outras, assaltos, mesmo, com bandidos armados. Já fui assaltado, também. Dois criminosos me renderam em um sinal no centro da cidade, na altura do Campo de Santana, ao meio-dia, e levaram a aliança que brilhara quando levantei a mão. Impotente, além da perda, levei uma série de tapas, sob a mira de um revóver que um dos assaltantes afirmava que iria usar para estourar minha cabeça.
     Minha filha mais velha também foi assaltada, quando esperava um ônibus naquele ponto da PUC. Um pivete queria sua bolsa e reforçou o pedido com um soco que quebrou seus óculos e machucou seriamente o nariz. A mais nova também foi vítima dessa cidade, em um engarrafamento na Avenida Presidente Vargas. O vagabundo levou sua carteira.
     Normalmente, não seria capaz de fazer justiça pessoalmente. Se tivesse chances, talvez perdesse o controle caso testemunhasse as violência cometidas contra minhas filhas. Olhando para dentro, entretanto, confesso que não tenho pena de bandidos. Não me abalo quando leio ou escuto que a polícia deu fim a alguns deles. Penso, antes, nos milhões de jovens que não tiveram oportunidades e mantiveram a dignidade.
     Os nossos direitos estão em primeiro lugar.

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