sábado, 15 de março de 2014

E agora?


     Será que ele, afinal, vai desmentir, retrucar, processar? Acho que não. É mais provável que o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva continue quieto, fingindo que não tomou conhecimento das acusações feitas pelo seu ex-auxiliar direto, o ex-secretário Nacional de Justiça, delegado Romeu Tuma Júnior, que o apontou, entre outras coisas, como alcaguete do Dops, nos duros tempos da ditadura militar.
     Lula - e sua história mostra isso - jamais teve coragem de enfrentar acusações e/ou acusadores. Tremeu quando o ex-presidente Fernando Collor (seu atual amigo fraterno) apareceu no último debate das eleições de 1989, de maneira deplorável, com uma pasta que, supostamente, conteria informações sobre seu relacionamento com a mãe de uma de suas filhas.
     Acovardou-se quando confrontado com as denúncias sobre as roubalheiras em seu Governo, no caso do Mensalão. Jurou que não sabia de nada e, em seguida, jogou a culpa em auxilares que o teriam traído. Repetiu o gesto de pouca coragem quando do episódio da falsificação de dossiês contra adversários, atirando a responsabilidade sobre alguns 'aloprados'.
     Escondeu-se, mais recentemente, quando suas relações com a chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Nóvoa, tornaram-se públicas. Nunca disse uma palavra sobre o comportamento de sua 'protegida', que vendia o prestígio que obtivera graças aos - digamos ...  - 'serviços' que prestava ao patrão. Nunca mais enfrentou jornalistas, Nunca mais deu entrevista.
    E manteve-se calado, acuado, ao ser exposto às revelações feitas pelo ex-delegado Romeu Tuma Júnior, no livro em que conta quase tudo o que viveu, viu e soube ao longo da vida como policial federal. A bem da verdade, não apenas ele, Lula, ficou quieto, fingindo-se de morto. Ninguém da trupe petista que está no poder  enfrentou as acusações, que foram muito além de apontar o ex-presidente como uma espécie de 'cabo Anselmo do ABC'.
     A acusação de que integrantes do primeiríssimo escalão - incluindo a atual presidente  - montaram uma fábrica de dossiês dentro do Governo, para atingir inimigos, foi convenientemente ignorada, o que me direito de acreditar que é verdadeira. Assim como a presença da digital petista no assassinato do prefeito Celso Daniel, de Santo André, que teria se rebelado ao saber que a propina paga por empresas de ônibus do interior paulista abastecia, além dos cofres do partido, bolsos particulares.  Afinal, inocentes, quando acusados, reagem, processam, exigem reparação.
     Talvez - só talvez! - agora, com a ida de Romeu Tuma ao Congresso, convocado para falar  sobre as acusações mais relevantes de seu livro, fique mais difícil para o ex-presidente e sua turma esquivarem-se de perguntas indiscretas, questionamentos. Para alguns temas, o "eu não sabia" pode até funcionar. Para outros, não há saída: o silêncio será visto inexoravelmente como uma confissão.

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