quinta-feira, 6 de março de 2014

A falência do Estado


     Por coerência, vou me permitir discordar frontalmente de todos os que saem por aí generalizando e colocando no mesmo saco manifestações democráticas e meras badernas, mesmo que motivadas por sentimentos relevantes. Não, não são pacíficas as interdições de avenidas a qualquer hora do dia, quase todas manipuladas por traficantes e/ou políticos. Ao contrário. São atos de violência contra a população em geral, que é impedida de exercer seu direito inalienável de ir e vir.
     Hoje, por exemplo, o Rio foi vítima de duas dessas manifestações injustificáveis, embora executadas sob a alegação de exigir justiça para dois assassinatos. Exatamente na pior hora do dia, no fim da tarde, grupos fecharam os acessos ao Túnel Dois Irmãos e à Linha Amarela, isolando a Barra da Tijuca e  parte de Jacarepaguá.
     Um trânsito já naturalmente insuportável ficou caótico. Milhares de pessoas foram impedidas de se locomover para suas casas, em um processo que vem se tornando recorrente, em virtude da mais absoluta ausência do Estado, desmoralizado e refém da ambições eleitoreiras de governantes medíocres e covardes. Doentes, crianças, idosos, todos foram vítimas desse estilo bandido de 'cidadania'.
     Presos no trânsito, milhares de pessoas assistiram à liberdade com que bandidos agiam roubando motoristas, preferencialmente mulheres e velhos. E, como corolário desse caos, o fedor do lixo que se acumula por toda a parte.
     Infelizmente, esse quadro não é privilégio do Rio de Janeiro. Apenas repercute mais. O interior de São Paulo está vivendo a apavorante escalada da violência, expressa na queima de dezenas de ônibus e carros particulares. A estupidez é endêmica e proporcional à omissão das ditas autoridades.
     Esse caos institucional deve ser creditado à demagogia e ao populismo que cresceram avassaladoramente nos últimos anos, sob a regência petista. Já escrevi, em alguns momentos, sobre esse tema. Volto o meu misto de questão e conclusão: como exigir respeito à lei e à ordem quando, num passado não muito distante, os que hoje estão no poder estimulavam a baderna, as quebradeiras, as destruições de patrimônio?
     Essa é, talvez, a maior conquista do projeto petista de poder: a interrupção do processo democrático de retomada dos direitos.

2 comentários:

  1. Ouso, como você, concordar para discordar de sua manifestação. As manifestações violentas são a ponta de um grave problema social. Nossa sociedade está doente, ausente, apática. Isso permite a tomada do poder por políticos descomprometidos, ou melhor, comprometidos apenas com seu próprio grupo e não com a população ou com o estado. Não é fenômeno petista, infelizmente é fenômeno político infiltrado em todos os partidos.
    Entretanto, o fenômeno da violência é mera consequência do faturamento de grupos organizados pela nossa maior elite social globalizada. A força do trafico de entorpecentes vem do varejo, do usuário comprador.
    Faça o exercício literário expondo as consequência de uma conscientização social onde todos os não viciados parassem de comprar drogas - os viciados formam um grupo à parte que a sociedade, sóbria, deve discutir e investir na recuperação independente de custo. Certamente a queda dos custos no trato da segurança pública geraria a verba necessária.
    Você está desafiado. Brasil sem consumo de drogas e a Violência Urbana!
    Adoro seus textos, vou curtir ler esse!

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  2. Obrigado pela participação, Borges. Também sou radicalmente contra as drogas, o maior flagelo dos tempos modernos.

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