quinta-feira, 20 de março de 2014

A batalha do Paraíba

     Ficamos assim, então: os paulistas que se danem. Parodiando a rainha Maria Antonieta, se eles não têm água 'comum', que bebam mineral. Afinal, são nossos primos ricos. É mais ou menos uma repetição da despropositada defesa intransigente do uso exclusivo dos royalties do petróleo extraído por aqui, graças à roleta geológica que nos premiou. O Nordeste e o Norte que sofram eternamente com a carência de recursos.
     Confesso que, para mim, é difícil aturar essa tipo de indigência mental, resultado de pura demagogia e exacerbação de  sentimentos 'nativistas' fora de época e de contexto. Essa nova 'disputa' entre paulistas e fluminenses (na verdade, entre paulistanos e cariocas) fede a naftalina e já provou sua inadequação ao provocar batalhas campais nos limites dos jogos de futebol.
     Guardadas as proporções, São Paulo surge, para o Rio de Janeiro, como uma espécie de 'Inglaterra para a Argentina', o inimigo que estávamos esperando para chamar de nosso. A disputa pela água do Paraíba do Sul interessa diretamente ao governador Sérgio Cabral, afogado em desastres políticos que comprometem a eleição de seu indicado. E como esse tipo de bobagem tem um inegável apelo popular, empurra assuntos que mereceriam manchetes para um canto de página.
     Não sou especialista recursos hídricos - tenho apenas um singelo poço artesiano, nos fundos do meu terreno, cuja água uso para molhar o gramado e os jardins -, mas encontrei verdadeiros absurdos nessa batalha encenada por atores canastrões.
     Em primeiro lugar, pelo que li, o projeto paulista prevê a utilização futura de água proveniente do Rio Jaguari, e não diretamente do Paraíba do Sul. Não por acaso, esse rio, que faz parte da bacia de contribuintes do Paraíba, fica integralmente em São Paulo, onde também nasce o nosso principal fornecedor de água.
     Também não sou dos melhores em matemática, mas me dei ao trabalho de ler algumas especificações do projeto. A principal: seria captado apenas 1/22 (uma parte em  vinte e duas!!!) do volume, parcela infinitamente inferior ao desperdício.
     A grande questão dos problemas que podem provocar o desabastecimento de cidades fluminenses é claro que não está nesse projeto, mas na incúria dos governantes, em primeiro lugar, empresários e da população em geral, que usam nossos rios como depósitos de esgoto. Em momentos de reduzido volume de chuvas, falta água e sobra um caldo impróprio para consumo humano.
     Simples assim.
     E antes que eu esqueça:: parodiando outro autor: sim "sou do Rio de Janeiro ... e já estou de saco cheio".

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