domingo, 30 de junho de 2013

É hora de reflexão

     Pela minha formação e histórico, jamais contestaria o direito à livre manifestação, um dos pontos inegociáveis em uma democracia que se preze. Ao longo da vida, participei de incontáveis momentos cívicos. Do repúdio às práticas ditatoriais à campanha 'Diretas Já', passando por movimentos gerados no meu sindicato, o dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro, nas décadas de 1970 e 1980, principalmente.
     Sou, também, um crítico insaciável dessa que classifico como a era mais lastimável e medíocre da nossa história, inaugurada pelo ex-presidente Lula. Portanto, fico bem à vontade para manifestar minha insatisfação com o fato de estar virando refém de um processo de 'manifestações' que corre o risco de soterrar os enormes benefícios promovidos pelo despertar da consciência nacional.
     Se todos queremos zelar pelo País, não podemos eternizar o caos. Não é admissível que a vida nacional seja administrada por boatos, insegurança e medo gerados a partir de uma absolutamente etérea rede social. Há alguns dias, decretou-se que haverá uma paralisação geral amanhã, segunda-feira, dia 1º de julho. E a partir dessa decisão, instalou-se uma corrente que avançou por toda a sociedade.
     Por mais que eu, particularmente, tenha motivos para comemorar as consequências políticas desse imenso caldeirão de emoções que nos empolgou - especialmente a devastadora queda na aprovação do atual governo -, não consigo reverenciar o simples desmanche das instituições, por respeito a tudo que defendo.
     É muito saudável, sim, que a sociedade tenha saído da letargia e assumido o papel de protagonista num processo que promete transformações. Mas também é fundamental que a mobilização preserve os ideais que levaram a população para as ruas. É difícil, tenho certeza, até mesmo pela ausência de 'lideranças', aquela gente ligada a grupos radicais e que se prestava a qualquer tipo de serviço, desde que beneficiasse determinados partidos políticos, destaque para o hoje imprensado PT.
     Esse processo, por sua dimensão, precisa uma consciência coletiva que se ajuste às instituições e saiba expor suas reivindicações a tempo e a hora. Até mesmo, e principalmente, para se preservar e colher os frutos.

Um comentário:

  1. O que se vê hoje nas ruas pouco tem a ver com a legítima indignação que mobilizou toda a nação duas semanas atrás. Aquelas multidões que se mobilizaram espontaneamente contra a situação deplorável em que se encontra o país já se recolheram às casas e ao trabalho. O que resta são grupelhos de extrema esquerda, engrossados, como de costume, por simples baderneiros sem ideologia.
    O movimento agora foi assumido pelo próprio governo e o PT, que insuflam esses arruaceiros com o objetivo de lhes dar motivo para apressar a adoção de medidas esquerdizantes, de seu interesse, até então sem aprovação no Congresso. A reforma política, ao jeito deles, é a maior prova disso. O que dificilmente conseguiriam no Congresso tentam alcançar por meio desse maroto plebiscito. E isso, claro, alegando atender ao clamor das ruas.
    Mas o saldo dos protestos, apesar desses efeitos colaterais, é muito positivo. A certeza da reeleição, a soberba, o desprezo pela opinião pública, aquele ar de superioridade imperial, deram lugar, no mínimo, a mais cautela e mais respeito aos eleitores.

    "Valeu a pena? Tudo vale a pena
    Se a alma não é pequena.
    Quem quer passar além do Bojador
    Tem que passar além da dor."
    (Fernando Pessoa)

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