quarta-feira, 5 de junho de 2013

Ameaça ao Supremo

     Há um lamentável e temido odor de acordo espúrio, arranjo por baixo dos panos, pagamento de apoio e troca de favores rondando a mais notória decisão do Supremo Tribunal Federal. Não chega a ser um fedor ostensivo, inebriante. Mas já começa a incomodar. Eu, pelo menos, já começo a sentir um certo desconforto com a possibilidade, real, de os quadrilheiros petistas condenados no caso do Mensalão do Governo Lula escaparem da prisão. Isso, sem falar na redução das penas dos demais bandoleiros.
     Dois fatos relevantes, que se entrelaçam inexoravelmente, são as maiores indicações de que algo pode estar vindo por aí, em breve. E não deve demorar muito, para que seus efeitos não causem reflexos nas próximas eleições. O mais contundente sinal veio, sem dúvida, das declarações do novo ministro do STF, o carioca Luís Roberto Barroso, indicado recentemente pela presidente Dilma Rousseff e que acaba de ter seu nome aprovado na Comissão de Constituição e Justiça do Senado por 26 votos a um.
     Embora ainda não tenha chegado, de fato, à Corte, o novo ministro deixou claro que o Supremo, na sua ótica, extrapolou no julgamento da quadrilha que assaltou os cofres públicos, com a bênçãos do governo da época. Uma de suas declarações, transcrita por O Globo, é emblemática: "Mas endureceu (referindo-se ao STF) no caso do mensalão. O mensalão foi um ponto fora da curva. Não houve um endurecimento geral (em julgamentos parecidos), mas naquele caso específico".
     Pois é. Pelo visto, nosso novo ministro acha que a ridícula pena de cerca de 11 anos de cadeia para o ex-ministro José Dirceu é exagerada. Talvez uma reprimenda - um leve 'puxão de orelhas' - fosse mais indicada. Seguindo-se esse raciocínio, os mais de 40 anos impostos ao publicitário mineiro Marcos Valério teriam sido um escândalo.
     Não é, com certeza, o que a maioria decente do povo brasileiro pensa. O julgamento do Mensalão do ex-presidente Lula foi, não tenho dúvida, o fato mais marcante da recente história brasileira, repleta de pilantragens e pilantras. A atuação do atual presidente da Corte, Joaquim Barbosa, como relator do processo, foi e ainda é reverenciada. As considerações do novo ministro chegam a ser ofensivas. E 'batem' não com as declarações, mas com o recuo de Marcos Valério nas acusações ao ex-presidente Lula.

Por uma lastimável coincidência - há quem garanta que elas, as coincidências, não existem -, o novo ministro e operador do Mensalão protagonizam notícias favoráveis à companheirada. Tomara que eu esteja errado.

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