terça-feira, 18 de junho de 2013

'Esquerda' de ontem, 'direita' de hoje

     Em 1969, jovem e intrépido repórter associado (trabalhava no extinto O Jornal), acompanhei uma enorme manifestação pela passagem do primeiro aniversário da morte do estudante secundarista Edson Luiz, atingido em março do ano anterior por um tiro, durante conflito com policiais, no antigo restaurante do Calabouço. A marcha estacionou na esquina das Ruas de Santana e Irineu Marinho, ali nas proximidades da Praça XI. Vocês já devem ter se situado geograficamente. É isso mesmo: em frente à sede do jornal O Globo.
     Naquela época - já sob os rigores do Ato Institucional número 5, promulgado em dezembro de 1968 -, O Globo despontava como um dos inimigos das reivindicações populares, representante da direita mais hidrófoba e quetais. Para não perder a viagem, um grupo desandou a atirar pedras contra o prédio do jornal.
     Algum tempo depois, com a expansão do império, uma das 'palavras-de-ordem' entoadas em toda e qualquer mobilização passou a ser o famoso "O povo não é bobo; abaixo a Rede Globo". Principalmente depois do 'episódio Proconsult', em 1982, quando tentou-se interferir na eleição para governador, vencida por Leonel Brizola.
     A Globo, na época, foi acusada de ajudar na manipulação dos resultados, para favorecer o candidato da situação ('direita'), o atual deputado federal Miro Teixeira (PDT e ex-ministro da Era Lula, de 'esquerda'), afilhado politico do ex-governador Chagas Freitas. Miro trabalhava no jornal O Dia, que pertencia a Chagas. Mais uma vez, o império Globo era associado à direita, situação que perdurou por muito tempo e foi explorada exaustivamente pela militância petista. O próprio Lula, em vários momentos, referiu-se à Globo como uma inimiga.
     Os tempos mudaram, o PT se fez poder. Nas mobilizações de ontem, ficamos sabendo que repórteres foram escorraçados pela multidão, que continua vendo o império de comunicações como inimigo, por ser um aliado dos mandatários, logo, parceiro da 'esquerda' , seja lá o que isso for. Ou a presidente Dilma Rousseff e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, para ficarmos apenas em dois nomes em mais evidência, são direitistas infiltrados?
     "O tempora o mores", diria Cícero.

     PS: Nos meus quarenta anos de jornalismo, tive o privilégio de passar boa parte em O Globo, sem dúvida, o melhor 'patrão' que já tive.

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