segunda-feira, 24 de junho de 2013

O poder da consciência

     Isolado da civilização - uma imagem que é absolutamente relativa e pressupõe 'preconceitos', reconheço - por cinco dias e noites, graças à inoperância da telefônica Oi, ganhei a oportunidade de não discutir o aprofundamento da mobilização que vem tomando o país, no dia a dia, como seria natural fazer. Ao ler algumas considerações bem recentes, tive certeza que não teria muito a dizer, além do que já dissera, há oito dias, no texto 'Havia Brasília, no meio do caminho' (O Marco no Blog' de 16 de junho).
     Continuo achando - no melhor sentido da expressão - que o feitiço atropelou os feiticeiros, para gáudio do Brasil. O que se antecipava apenas como mais uma ação isolada, político-partidária, sim!, fugiu do controle, ao ser sequestrada por uma camada da população - essencialmente jovem, ávida por ser protagonista de alguma coisa.
     O repúdio à manipulação alterou o jogo e assustou até mesmo seus mentores. Muito mais do que o desvio de conduta de baderneiros e arruaceiros contumazes, que esse é facilmente combatido com a presença ostensiva da polícia. O nó da questão é que não há meios legais de calar consciências, exceto em regimes de exceção, arbitrários, o que não é o nosso caso.
     Repetindo o título do texto (que também vai reproduzido, abaixo): Havia Brasília, no meio do caminho.
     "Desde o início das recentes manifestações - e discuti esse tema com um jovem amigo, ontem - venho defendendo a tese de que há, sim, um enorme componente político-partidário por trás de tudo. Até mesmo a adesão de grande parcela de jovens é resultado de um exercício de manipulação executado por grupos extremistas e radicais. A garotada vai para as ruas pensando que está mudando o país, mas, na verdade, está sendo usada como fachada para projetos eleitorais, lutas por protagonismo.
     Assumi essa tese bem antes de saber, pela Folha, que investigações da polícia paulista detectaram o uso de grupos de marginais por militantes de partidos de extrema - no caso, PSTU e PCO e outros siglas semelhantes -, que vivem em confronto com tudo e todos, incluindo nesse pacote de adversários até mesmo o PT, antigo parceiro. É a turma que continua defendendo luta armada e ainda se mantém fiel ao espírito do velho e sepultado regime albanês.
     Seria muito simplório acreditar que movimentações que alcançaram essa dimensão estivessem mirando apenas no reajuste das tarifas de transporte público. Há, é verdade, idealismo e insatisfação com a péssima qualidade dos serviços e com o início de crise que começa a nos rondar mais de perto. Como há simples vandalismo de desajustados. Mas o foco central é a luta pela imposição ideológica, que se aproveita da saudável tendência natural dos jovens à contestação.
     Nesse contexto, há uma aposta evidente no conflito. Passeatas que acabam sem cacetadas ou balas de borracha não conseguem a repercussão idealizada. Mostram, sim, inconformismo, mas não exibem as imagens de confronto com as 'forças de repressão' que alimentam novas manifestações e assim sucessivamente.
     Num primeiro momento, o partido que domina o poder há dez anos e meio ficou em uma confortável expectativa. O confronto em São Paulo favoreceria, em tese, a campanha petista para o governo, ano que vem, pois a polícia - quase sempre estúpida - é estadual, comandada pelo governador, que é do PSDB. O papel da prefeitura, que é do PT, ficaria difuso, embora as tarifas de ônibus em questão sejam responsabilidade municipal.
     No Rio, o desgaste do governador Sérgio Cabral não faria diferença. Na melhor das hipóteses, reforçaria a candidatura do senador Lindberg Farias. Entre feridos e feridos (não houve mortes, ainda bem), o saldo seria bom. Alguns próceres petistas chegaram, até, a ensaiar a condenação da arbitrariedade em São Paulo. Sabemos que o PT cogitava liberar sua turma para engrossar as fileiras que protestam em São Paulo.
     Mas, aí, aconteceu Brasília".

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