quinta-feira, 14 de março de 2013

Um papa para a Igreja chamar de seu

     Por opção, prazer ou algo semelhante, assisti a uma missa há certamente mais de 50 anos, que é o tempo que marca meu distanciamento intelectual e formal da Igreja. Como repórter, cobri várias solenidades. Como homem, sofri em despedidas dedicadas a entes queridos, como meu cunhado Roberto Faria Viana, recentemente. Ainda em O Globo, participei de um encontro no Sumaré, alguns dias de reuniões com diversos expoentes da sociedade, creio que em 1975, ou 1976. Eu representava não apenas a empresa (era o chefe de reportagem), mas - de certa forma - a geração de brilhantes jornalistas da Rua Irineu Marinho, nessa época.
     Minha mãe era extremamente católica. Não desgrudava do terço, que rezava duas vezes ao dia. Meu pai, que nos deixou muito cedo, aos 52 anos, era devoto de Nossa Senhora da Conceição (8 de dezembro), mas não praticava. Lembro que a morte de meu irmão e padrinho, Roberto, aos 19 anos, afogado (eu tinha apenas 6 anos), fez com que meu pai quase rompesse o elo que ligava a família de imigrantes portugueses à Igreja, a Deus.
     Mas a história, o hábito, a vida de subúrbio e a proximidade da Paróquia de Nossa Senhora das Graças, em Marechal Hermes, a pouco mais de cem metros da vila simples onde eu morava, mantiveram meus laços com Roma apertados por algum tempo. Até que, num determinado domingo, decidi que não mais iria à missa matinal e que não faria a Primeira Comunhão, como se esperava de mim. Meus pais, embora simples, respeitavam nossas escolhas.
     Não posso afirmar que houve uma ruptura integral. Continuei respeitando as ações sociais. Sou do tempo de Dom Helder Câmara, da sua opção pelos pobres. Olho para a história e encontro mais pontos favoráveis do que negativos. Procuro avaliar os fatos de acordo com o momento, com as circunstâncias. Não tenho dúvida em afirmar que respeito todas as manifestações religiosas, desde que não incluam sacrifícios de animais e batucada, nada mais do que expressões - digamos - folclóricas.
     Mas confesso que a Igreja Católica, com seus dogmas, mistérios e incoerências, é a que mais me toca, mesmo que como simples analista, observador, testemunha. Acompanhei comovido, admito, o calvário de João Paulo II. Aprendi a respeitar a sólida formação de Bento XVI e me emocionei com a emoção dos milhões de católicos pelo mundo, ontem, quando da proclamação de Francisco I.
     Não espero um papa modernoso, disposto a aceitar casamentos entre iguais, sexo livre e temas semelhantes. A Igreja não é assim. Há dogmas que são imutáveis, sob pena de abalarem a própria estrutura da religião. Mudanças, sim. Lentas em termos objetivos (dias, meses ou um par de anos), mas rápidas se levarmos em conta os dois mil anos da sua - dela Igreja - história.
     E, antes que eu esqueça: Francisco I tem uma agradabilíssima cara de papa.

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