sexta-feira, 15 de março de 2013

A força das montadoras

     Só vou encarar com seriedade qualquer projeto em defesa do consumidor - especialmente os que prevêem (*) a obrigatoriedade da troca de produtos com defeito -, no momento em que as montadoras de automóveis forem compelidas a substituir veículos que claramente apresentam defeito de origem. Mandar trocar liquidificador e ferro de passar roupa - o que já acontece, destaque-se - é fácil. Quero ver obrigar Ford, General Motors, Fiat, Volkswagen e similares a trocarem Pálios, Unos, Celtas, Gols etc.
     Essa jabuticaba legal me incomoda desde sempre. Tive, inclusive, a oportunidade de discutir formalmente o tema, em matérias e reuniões, nos quase dez anos que passei à frente do extinto caderno de automóveis do também extinto Jornal do Brasil, nos anos 1990, quando o jornal ainda apresentava alguns resquícios de decência. Não há chance de isso - a troca - acontecer. A indústria automotiva, além de se proteger mediante artifícios legais, conta com uma força-tarefa indestrutível.
     Lembro de casos extremos provocados pelo desesperos de consumidores que compraram enormes - e caros - problemas: carros com defeito de fábrica. Um deles, que ficou famoso, remete a um cliente que anunciou a disposição de incendiar seu impotente 'possante' na frente da sede de uma das montadoras, aqui no Rio. Em extremo, conseguiu a troca. A repercussão - todos os jornais e tevês estavam pautados para cobrir o 'incêndio' - sairia muito mais cara.
     Mas esse caso foi uma exceção à regra. As montadoras usam e abusam do direito de prorrogar a solução dos problemas por infindáveis e seguidos períodos de 30 dias. O carro problemático é devolvido, como se tudo estivesse bem; roda alguns quilômetros e volta a apresentar o mesmo defeito. É o suficiente para a renovação do prazo. Trocar? Jamais.

 
     (*) Há certas palavras que ainda não consigo escrever sem o acento.

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