quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Pelo menos a dengue é democrática

     Se há algo democrático nesse país é a dengue. Ela atinge quem mora na Zona Sul e nos cafundós da Zona Rural. Os mosquitos pairam acima do poder aquisitivo. Tanto estão nos lagos do Jardim Botânico como nos valões de Inhoaíba. Aqui na Pedra, eles voam livres leves e soltos, fazendo suas vítimas. Eu, por exemplo, passei boa parte dos últimos dois dias nas emergências de dois hospitais, acompanhando Isis. E pude comprovar que há, de fato, uma enorme epidemia na cidade.
     São crianças, adultos e idosos, arriados, com dores, com o sofrimento estampado. O vírus de 2013, como se podia prever, é mais resistente e forte do que os que o antecederam. O tratamento exige mais tempo em repouso absoluto, hidratação total e o acompanhamento da febre, quase sempre alta.
     O combate aos focos, no entanto, é cada vez menos consistente. Para ser coerente comigo mesmo, não posso afiançar que os 'fumacês' desapareceram de todos os bairros. Aqui da Pedra eles sumiram. Uma amiga e vizinha de condomínio, cujo marido está de cama, identificou um eventual foco e pediu providências. Prometeram atender em cinco dias úteis. Nessas 120 horas, quantas pessoas podem ser afetadas?
     Nos anúncios oficiais da tevê, entretanto, a cidade é um mar de rosas - para ser mais exato, um mar azul-turquesa, caribenho. Não há uma imagem sequer do Rio Piraquê, um valão poluído, receptáculo de esgoto, que corta a região e despeja suas águas fétidas na Baía de Sepetiba.
     O pólo de combate à dengue que funcionava no Posto de Saúde do bairro foi desativado logo após as eleições. Quem precisa de atendimento público é obrigado a recorrer à UPA de Sepetiba, absolutamente lotada, apesar da boa vontade dos funcionários.
 

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