segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Batuques e mandingueiros

     Passo longe de batuques, foliões e assemelhados há muito tempo. Não acompanho desfiles e não dou a menor importância para quem ganha, perde, sobe ou desce. Meu carnaval perfeito é aquele em que eu não escuto bumbos e cuícas. Mas minha relação com o 'período momesco' já foi diferente, admito. Quem me conhece mais de perto não pode imaginar que, algum dia, cometi o desatino de fazer a cobertura de escolas de samba do então primeiro grupo. Na verdade, o desatino partiu de quem me escalou para tal tarefa, há quase 40 anos, quando eu ainda era um jovem e estusiasmado repórter especial de O Globo.
     Para ser fiel aos fatos, fui escalado para acompanhar e avaliar não apenas uma, mas seis escolas. É isso mesmo: as seis mais importantes da época (no futebol, seriam os times grandes) mereceram um repórter exclusivo cada e - é claro - espaços maiores. A meia dúzia de 'times pequenos' ficou comigo. Pelo menos isso.
     Embora não acompanhe, é evidente que ainda sou bombardeado com informações sobre os desfiles, mesmo tentando evitá-las. Foi assim que eu soube que algumas escolas iriam apresentar enredos sobre a Coreia do Sul, Alemanha, gente famosa e novelas da Globo. A princípio, pensei que fosse uma piada. Não era. Isso aconteceu e ainda vai acontecer aqui no Rio, na Marquês de Sapucaí.
     Se ainda tivesse alguma paciência para olhar a tevê, ela acabaria definitivamente. É inacreditável que uma das ditas expressões culturais brasileiras seja submetida a um vexame desse porte. Não chego a ter saudades do tempo em que os temas nacionais eram obrigatórios, embora tivessem rendido alguns dos melhores momentos do carnaval. A diversidade e abertura são fundamentais em qualquer criação. Mas, assim, é demais.
     Coreia do Sul - perdoem-me os que mais entendem da folia e de seus mistérios e discordam - não dá samba, jamais. Assim como a odisseia do "PIS, Pasep e Funrural" também não deixou saudades. Sem ter visto, imagino que tenha sido (ou será) uma vergonha. Se fosse consultado, não teria a menor dúvida em sugerir o rebaixamento da 'alemãozada' toda para desfilar na Intendente Magalhães, em Campinho.
     PS: O epiódio da cobertura especial que fiz em alguns desfiles me remeteu a uma passagem marcante da minha vida 'jornalistica'. Eu ainda estava no O Jornal e fazia de tudo um pouco, incluindo chefiar a reportagem, editar Cidade e cobrir férias de secretários. Em uma das minhas tardes de plantão, o chefe da oficina avisou que não poderia rodar o segundo caderno, pois faltava o horóscopo. Nosso especialista em astros morava em Niteroi e, por algum motivo, que não lembro, não mandou o texto, como fazia naturalmente. Não se cogitava em colocar um 'calhau' (anúncio da casa) para cobrir o buraco. O horóscopo tinha lugar reservado. "Eu resolvo", anunciei. Ato contínuo, produzi um guia completo para os nascidos sob a influência de todos os signos do Zodíaco. Ninguém reclamou.

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