quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O papa e o 'Bolinha'

     Jamais faltara à sessão da 'Vida de Cristo', obrigatória nas sextas-feiras da Paixão do Cine Lux, o 'Bolinha', o único (*) do subúrbio de Marechal Hermes, naquelas decadas de 1950 e 1960. Fazia parte do meu ritual - ou do ritual que surgia naturalmente na vida da garotada suburbana. Até que decidi que não iria - tinha meus 10 ou 11 anos. A Igreja já não me atraía, mas minha consciência pesou por muito tempo. Optei pelo futebol e custei a me perdoar.
     Desde então mantenho um relacionamento distante, mas respeitoso, com a religião (qualquer uma). Fui praticamente vizinho da Igreja de Nossa Senhora das Graças, em Marechal. Morei na mesma rua - Capitão Rubens -, a não mais de 150 metros, por 21 anos. A 'missa dominical das seis' passou a seu uma referência para rapazes e moças marcarem seus encontros.
     Ao longo da vida, fui sendo apresentado às enormes contradições das religiões em geral, a Católica Apostólica Romana em especial. Mas consegui, naturalmente, colocar os dramas e tragédias sob uma perspectiva crítica pragmática. Embora tenha sérias restrições a diversos posicionamentos do Vaticano, continuo encontrando fatores muito positivos no trabalho social desenvolvido ao redor do mundo.
     Há pedófilos, sim. Há avarentos e ladrões comuns, como em todos os segmentos da humanidade. Mas o projeto espiritual, a luta pela paz e o resultado das ações excedem, com sobras, os desencontros. A renúncia de Bento XVI surge, também para mim, como uma rara demonstração de desprendimento.
     Não comungo com as teorias conspiratórias e apocalípticas que pipocam aqui e ali. Acho desprezíveis as alusões ao 'passado nazista' do ainda papa. A redução da discussão sobre os motivos da decisão papal me parece simplória e - especialmente aqui nesse mundo petista - contaminado pela cegueira ideológica.
     Será que é tão difícil acreditar que um homem - é isso mesmo, o papa é um homem! - com 85 anos, doente e fragilizado decida renunciar a um cargo de tanta relevância, justamente por se sentir incapacitado fisicamente para exercê-lo?
     É evidente que há pressões políticas no Vaticano, mas elas sempre existiram. Um homem forte física e espiritualmente conseguiria contorná-las. Não é o caso de Bento XVI, como ficamos sabendo. Abatido, optou pela saída mais difícil, o que despertou meu respeito por ele.

    (*) Nos anos 1960, Marechal ganhou um novo cinema, o Santa Emília. Durou pouco. Há muito tempo o velho Bolinha foi comprado pela Universal.

Um comentário:

  1. As tais teorias conspiratórias, apocalípticas ou difamatórias são comuns quando o alvo é um conservador ou alguém que, no mínimo, não compactua com as ideias da esquerda. É muito raro ver-se na imprensa as mesmas elucubrações maliciosas dirigidas a figuras como Fidel Castro, Che Guevara, Ahmadinejad, Lula, Daniel Ortega, Dilma, Frei Betto, Stálin, etc...

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