domingo, 2 de fevereiro de 2014

Justiça pendular

     Como num passe de mágica, alguns dos principais nomes da quadrilha que assaltou os cofres públicos durante o governo Lula estão se safando das punições, que foram extremamente brandas. José Genoíno, presidente do PT quando a ladroagem foi mais intensa, está em casa, confortavelmente instalado, e com a dívida paga pela companheirada.
     O faz-tudo da quadrilha (até tentar assumir a culpa total pelo assalto), Delúbio Soares, também não precisou mexer no bolso para pagar seu quinhão. E obteve o tal 'direito' de trabalhar durante o dia, fora da cadeia, quando deveria estar purgando seus pecados em alguma plantação, quebrando pedras ou costurando bolas, atividades que são oferecidas a poucos e que são disputadíssimas entre os presos com direito ao regime semiaberto.
     José Dirceu, o condenado chefe da quadrilha do Mensalão (ele garante que não era o chefe, no que eu concordo, talvez por outros motivos), também não tem motivos para reclamar da sorte. O dinheiro da multa que deve ao erário já está sendo providenciada e ele está prestes a ser liberado para dar suas voltinhas durante o dia. João Paulo Cunha, aquele que mandou a mulher receber sua parte na propina, sequer foi preso. Continua afrontando a dignidade nacional exercendo o mandato de deputado federal. Já sabe, também, que não terá problemas para pagar a multa imposta pelo Supremo Tribunal Federal.
     Como podemos ver, o 'núcleo político' do maior assalto institucional aos cofres públicos saiu-se muito bem, obrigado. Na pior das hipóteses, podemos admitir que a turma fez ou faz um 'retiro espiritual', com confortos inimagináveis para presos sem o mesmo prestígio. A mão pesada da Justiça - pesada, mesmo!!! - está desabando, apenas e tão-somente, no grupo liderado pelo publicitário mineiro Marcos Valério.
     Condenado a mais de 40 anos de prisão, deve ficar atrás das grades em torno de 15 anos. Quando sair, verá que seu patrimônio estará reduzido a quase nada, em função da imposição de multas astronômicas. Hoje mesmo o Estadão nos lembra que ele deve algo muito perto de R$ 300 milhões. Como tem bens formais, eles deverão ser usados no pagamento.
     Assim, quando - e se ... - sair da cadeia, Valério estará velho e na miséria, bem ao contrário dos seus parceiros de crime, da ala 'política', que continuam prestigiadíssimos, com bons salários e sabendo que podem contar com a boa vontade de todos, em caso de necessidade.
     Esse futuro talvez - e eu torço por isso há muito tempo - seja o estímulo que falta para que ele, afinal, cumpra o que vem ameaçando e decida, de uma vez, contar tudo o que sabe sobre todos os bandoleiros, de todos os matizes. O caminho foi aberto pelo ex-delegado Romeu Tuma Júnior. Marcos Valério pode escapar da falência enveredando pelo caminho - digamos ... - 'literário'.
     Um livro - quem sabe uma coleção? - sobre seus relacionamentos com autoridades, de Minas e de Brasília. O sucesso estaria garantido. E o país decente agradeceria.

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