segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

O impasse venezuelano


     Venho resistindo à compulsão de escrever sobre a crise venezuelana. Nunca escondi minha repulsa por Nicolás Maduro, esse personagem lastimável que vem acelerando o processo de destruição do país, iniciado e desenvolvido por seu antecessor, o ainda insepulto coronel de francaria Hugo Chávez.
    Por maior que seja meu repúdio a um governante desastroso, demagogo, mentiroso e absolutamente boçal, como é o caso de Maduro, não consigo simplesmente esquecer que ele foi eleito, em tese, democraticamente. É verdade que o processo eleitoral foi manipulado e duramente criticado, mas foi aceito.
     Entendo a revolta popular contra esse, que é um dos mais medíocres e estúpidos governantes do mundo - comparável ao presidente de Uganda, que acaba de assinar lei que pune homossexuais com prisão. Acredito, mesmo, que as manifestações são formas legítimas de expressar  descontentamento com um governo que agride a dignidade nacional. Mas reluto em apoiar tomadas de poder pela violência.
     O caminho, sempre que possível, deve passar pelas urnas. Mesmo em casos críticos, como me parece ser o venezuelano. A mobilização popular deve servir de instrumento de pressão por novas eleições, de convencimento das autoridades judiciais, que estão sendo confrontadas pela ingerência absurda do governo cubano, através de milicianos armados.
     A Venezuela não vai resistir impunemente à continuação do impasse criado pela clara divisão do país. Algo precisa ser feito, antes que o conflito reedite, na nossa vizinhança, o recente desastre verificado na Ucrânia. Por enquanto, são 'apenas' onze mortos. A tendência é que esse número aumente, proporcionalmente à radicalização.
     A população quer se expressar, deve ter esse direito. Seria o momento propício para o governo brasileiro atuar como mediador, convencendo seu parceiro de que uma consulta popular, respaldada por organismos independentes, seria o mais indicado. Temo, no entanto, que isso não vai acontecer.
    Como vem acontecendo nos últimos onze anos, estamos sempre no lado errado das disputas, apoiando ditadores assassinos e/ou assassinos ditadores.

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