segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Cena carioca


     Fiz questão de ler os primeiros  93 comentários sobre a matéria da 'reação' de uma ongueira da moda à surra que um grupo de 'justiceiros' deu em um vagabundo - tratado como "jovem" e " adolescente" - que vinha assaltando no Aterro do Flamengo. Apenas dois leitores de O Globo e do Extra demonstraram um tímido apoio à citada senhora. Quase todos os demais, de maneira razoavelmente educada, sugeriam que ela, a defensora, levasse o 'menino' para casa, e acabasse de criar, já que estava tão revoltada. Os outros foram menos gentis.
     É claro que eu também não sou, em tese, favorável a que pessoas e/ou grupos tomem a justiça nas mãos. Em sociedades civilizadas, esse papel cabe aos governos legitimamente constituídos. Mas entendo perfeitamente quando alguns cidadãos, encurralados pelo descaso das autoridades e massacrados por degenerados, decidem agir.
     No caso, houve uma reação até certo ponto moderada. Três homens identificaram um dos chefes dos assaltos e agressões rotineiros, cercaram, aplicaram uma boa surra e o deixaram amarrado a um poste, nu, para que a polícia o encontrasse. Foram, convenhamos, incomparavelmente menos agressivos do que esses bandos que vêm aterrorizando a cidade. Uma semana antes, se tanto, um carioca que acredita na cidade, foi atacado por esse marginal (ou outro qualquer de seu bando), despojado de seus bicicleta, esfaqueado e ainda perdeu documentos e dinheiro.
     Largado no chão, sangrando, recebeu a ajuda de algumas pessoas que passavam pelo Aterro e o encaminharam a um hospital. A ongueira da moda não apareceu sequer para saber se o homem tinha se recuperado, se precisava de algum auxílio.  Não se deu ao trabalho de emitir uma nota oficial de apoio, nada. Mas quando soube que havia um vagabundo amarrado num poste, saiu de casa imediatamente, para socorrê-lo . Sua reação foi registrada pelo jornal Extra:
     - Eu não quero saber se ele é bandidinho ou bandidão, você não pode amarrar uma pessoa no meio da rua", bradou dona Yvonne Bezerra de Melo, do Projeto Uerê.
     Ela, a ongueira, certamente prefere que o 'bandidinho ou bandidão' continue leve e solto, atacando pessoas, matando, roubando. Na sua escala de valores claramente afetada por uma evidente disfunção ideológica, mais vale um vagabundo solto do que um cidadão agredido.
     Mais uma vez: não defendo milícias, milicianos ou afins. Por definição, pauto minhas atitudes e pensamentos pela lei. Se o Estado estivesse presente, como deveria estar, o incidente não teria acontecido. Haveria mais segurança e menos desajustados  nas ruas. Se o Estado fosse de fato digno, haveria, até, menos desajustados.
     Mas, aí, fica uma questão: esses ongueiros viveriam de quê?

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