quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A peste do autoritarismo


     A quadrilha do Mensalão (vou aproveitar enquanto a companheirada não absolve os bandoleiros) mostrou, ontem, e mais uma vez, que não perdeu a força e o domínio dessa lastimável República. O voto do ministro Luis Roberto Barroso, celeremente acompanhado pelos trepidantes e também petistas Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli, foi um exemplo claro de manipulação dos fatos, de estroinice jurídica.
     Não contente em transformar quadrilheiros em meros coautores, o ministro indicado a dedo pela presidente Dilma Rousseff fez 'justiça à promoção'.  Chegou, mesmo, a afirmar que as penas impostas aos maiores ladrões institucionais da nossa história foi excessiva. Ele acha que José Dirceu e asseclas (estou aproveitando!!!) merecem muito menos do que dez ou doze anos de cadeia. Para ele, roubar o país, comprar congressistas, mentir e desonrar cargos públicos são crimes menores. Talvez recomendasse um puxão de orelhas retórico, uma zanguinha dirigia a esses meninos levados.
     Não esperava algo muito diferente. Desde a posse - e antes dela -, o novo ministro dava sinais evidentes de que entraria no time dos defensores dos bandoleiros, capitaneado por Lewandowski, secundado por Dias Toffoli e com a evidência simpatia (lamento ter que registrar) de Carmem Lúcia e Rosa Weber, que chegou praticamente chorar quando se sentiu obrigada a decidir pela punição a José Genoíno, ainda na primeira fase do julgamento.
     Lastimo, profundamente, que a aura de dignidade construída pelos ministros Joaquim Barbosa, Luiz Fux, Gilmar Mendes e Celso de Mello, em especial, esteja ameaçada pela contaminação ideológica, pelo alinhamento político de juízes que deveriam estar acima de partidarismos. Em um país descrente das instituições, o Supremo Tribunal Federal surgiu, ano passado, como um oásis de dignidade e independência.
     Hoje, está muito perto de ser engolfado pela indisfarçável militância. Como nos lembra Carlos Granés, no prefácio de 'Sabres e utopias', de Mario Vargas Llosa, referindo-se ao Peru:  "... a peste do autoritarismo ... criava um precedente que acabaria por se impor nos anos seguintes como uma moda nociva na América Latina: o de monopolizar os diversos braços do poder, partindo da legalidade, chegando ao Executivo por meios democráticos para, em seguida, trair as regras do jogo, reformar constituições, infiltrar-se no judiciário ...".
     O que já aconteceu nos nossos vizinhos, em especialmente na Venezuela e Argentina, configura-se por aqui, com a nova configuração da nossa mais alta Corte.

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