terça-feira, 10 de setembro de 2013

O último lamento

     A 'entrevista' do ex-ministro José Dirceu à Fundação Perseu Abramo, do PT - e repercutida nos nossos jornais, entre elas o Estadão -, é um primor de vigarice retórica. É inacreditável que alguém dessa era inaugurada há dez anos e oito meses ainda tenha a coragem de acusar as "elites" de alguma coisa. Essa gente finge que não está de braços dados justamente com o que há de pior nas elites brasileiras, em todos os setores, destaque absoluto para o político.
     Será que eles - Dirceu e companhia - esqueceram das profundas ligações e amizades com José Sarney, Paulo Maluf, Carlos Lupi e Michel Temer, por exemplo? Se essa turma não é da 'elite', acho melhor que todos nós reconsideremos o conceito que temos sobre a palavra. E os banqueiros, que nunca, jamais, em tempo algum, lucraram tanto, em tão pouco tempo, como agora? E a turma das empreiteiras, refastelada no colo do tal PAC?
     Até compreendo o desespero de Dirceu, condenado à cadeia por ter chefiado a quadrilha que assaltou os cofres públicos durante o primeiro mandato do ex-presidente Lula. Ele, certamente, jamais imaginou que a situação chegasse ao ponto em que chegou. Afinal, está a apenas 24 horas de ver soterradas suas tênues esperanças de ficar livre da prisão. Com um pouco de esforço, eu poderia, até, admitir que ele acredita, mesmo, que a roubalheira petista foi realizada em nome de uma causa maior. Não acredito nessa baboseira, mas é possível que haja alguém que creia.
     Dirceu talvez devesse estar direcionando sua mágoa e seu inconformismo para outros alvos, que saíram ilesos da devassa realizada nas investigações e julgamento do Mensalão. Mas a culpa por essa situação é dele mesmo, ao ter apostado na influência do poder não apenas na fase de investigação, mas no julgamento dos crimes.
     O peso das provas, no entanto, inibiu qualquer tentativa de acobertamento ou de leniência, especialmente dos julgadores, com as exceções - Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli - já conhecidas de sobra e repudiadas por todos quase toda a população. Inibiu, até mesmo, a imaginada interferência dos novos juízes, apenas alinhavada.
     A entrevista de Dirceu soa, para mim, como o último lamento, algo como as derradeiras palavras ou refeição concedidas a um condenado à morte. Se tudo correr normalmente, como o Brasil decente espera, amanhã, no fim da tarde, o destino da turma que ousou desafiar a democracia estará definido. E ele passa pelas celas de uma prisão.

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