domingo, 15 de setembro de 2013

As 'polícias' do secretário

     Talvez eu esteja precisando reaprender a ler, a interpretar notícias, comentários. Será que ninguém, no mínimo, estranhou o fato de o secretário de Segurança fluminense, José Mariano Beltrame, anunciar, candidamente - em entrevista a O Globo -, que o efetivo das novas delegacias da polícia civil que serão instaladas em comunidades pacificadas será formado apenas por agentes recém-formados? A justificativa não poderia ser mais desastrada: eles não teriam os vícios dos colegas antigos.
     Para mim, isso quer dizer mais ou menos o seguinte: vamos usar uma turma que ainda não recebe propina, que ainda não faz acordo com traficantes, que ainda não comete arbitrariedades, que ainda, em síntese, é razoavelmente decente. O restante da cidade que se dane e fique com os indecentes.
     E não parou por aí. Não satisfeito, Beltrame prometeu mudar, também, os comandos das UPPs, trocando oficiais da Polícia Militar do sexo masculino por mulheres. Também fiz uma leitura particular. Entendi que os policiais homens são incapazes de manter um relacionamento correto com comunidades expostas ao crime, por truculentos ou insensíveis. Como se esses males atingissem apenas o sexo masculino.
     Usando o mesmo raciocínio que empreguei em relação aos policiais civis, entendi que, para ser tratado com urbanidade e respeito, preciso providenciar minha mudança para áreas sob as asas de uma policiais militar. Ou me sujeitar a ser sequestrado ou espancado na saída de casa (ao ser confundido com alguém), ou ao cometer alguma estripulia no trânsito.
     Partindo de alguém com a responsabilidade do secretário, a visão da Polícia (Militar e Civil) que ele me transmitiu na reportagem é a mais sombria possível: corrupta, arbitrária, insensível e violenta. Ou - e isso também me ocorreu - Beltrame estava, apenas e tão-somente, exercitando um dos maiores males do nosso mundo político: a vigarice retórica, destinada a receber aplausos imediatos e - sempre é muito bom! - alguns votos a mais em eleições, mesmo indiretos.
     Nós não precisamos - definitivamente - de duas polícias, uma para áreas 'pacificadas' e outra para o restante do Estado, que continua exposto. Precisamos apenas de uma, que zele por todos com a mesma determinação e honestidade. E de um secretário que não se deixe contaminar pela politicagem barata.

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