sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

O crime compensa

     Ao assistir, de passagem, à posse da presidente Dilma Rousseff e ao olhar seus ministros e convidados, não conseguia deixar de pensar que, no Brasil, o crime compensa, sim. Como é possível aceitar, sem que o estômago comece a se revolver, que uma das principais convidadas para a festança tenha sido justamente a ex-ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, envolvida até a medula num caso ainda aberto de pilantragem enquanto ocupava o cargo?
     A foto de Erenice ao lado de Graça Foster, a ainda presidente da saqueada Petrobras, publicada hoje em O Globo, entre outros, é a prova mais evidente da promiscuidade e da devassidão que marcam essa era infeliz da nossa história. As duas só estavam lá, convidadas pela presidente, para cumprir um claro e evidente compromisso que passa por um acordo de não-delação.
     Se jogadas na vala comum dos assaltantes dos cofres públicos da Nação, certamente não aceitaram o enterro sem pompas e unilateral, ao contrário do que fez o insignificante ex-tesoureiro petista do mensalão, Delúbio Soares, que assumiu toda a culpa para livrar o chefão de todos os chefes.
     Erenice saiu pela porta dos fundos, mas vem provando que seu ‘prestígio’ continua intacto nas hostes petistas e governamentais. Graça Foster, apesar da dimensão do escândalo envolvendo o assalto aos cofres da Petrobras para financiar basicamente o PT e asseclas mais próximos, continua lá, encarapitada na chefia da nossa maior empresa, impávida, colossal.
     Se a primeira aceitou a demissão quando ficou evidenciada a existência de um balcão de negócios escusos na Casa Civil, a segunda não admitiu levar a culpa pela vagabundagem institucional, pelo esquema de propina ajustado para garantir os recursos necessários ao esquema de poder.
     Erenice contenta-se com as demonstrações públicas de ‘apreço’, como os convites para festanças oficiais. Graça não parece disposta a trocar passivamente a cadeira de presidente da Petrobras pelo banco os réus.

     As duas presenças em Brasília, ontem, deram, para mim, o tom exato do que podemos esperar de um governo que já começa marcado pela corrupção, pela mais vulgar troca de favores, pelo loteamento de ministérios, pela mediocridade dos integrantes do primeiro escalão. 

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