sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

O olho cego e o calor

     Não sou de ir a shoppings. Na verdade, sou daqueles que preferem ficar em casa, mexendo em plantas, cuidando da piscina para o prazer dos netos. Isso, quando não é possível pegar um carro e sair pelo país, como fiz regularmente nos últimos 20 anos, desbravando lugares como nossas três chapadas principais (Veadeiros, Diamantina e Guimarães), Pantanal, Amazônia e esse incrível Jalapão, pelo qual me apaixonei definitivamente e onde estive sete vezes.
     Mas não resisto – confesso – a uma chance de encontrar Júlia, Pedro ou João Pedro. Por eles, vou até ao Rio-Sul na véspera de Natal, se preciso for. Hoje, para encontrar o molequinho mais novo dos três, fui ao novo Shopping Américas, no Recreio, e tive a chance de esbarrar em figuras que modificaram, até, alguns de meus conceitos sobre pessoas e assemelhados.
     Há alguns meses, na falta de assunto mais palpitante, relacionei alguns personagens aos quais eu preferiria ignorar, como pessoas que mandam ‘arreiar’, quando querem dizer ‘arriar’. Ou que usam óculos no cocuruto, ao invés de nos olhos, como seria de se esperar. Quando vejo, de longe, um sujeito com os óculos escuros cravados no alto da cabeça imagino logo que esteja tentando permear a entrada de conhecimento.
     Pois bem. A ida ao tal shopping, hoje, me ofereceu a oportunidade de descobrir um novo personagem ainda mais deplorável e ridículo, uma espécie de ‘evolução’ do cara que usa óculos na cabeça, para compor um tipo, seja lá isso o que for: é o sujeito que usa os óculos ao contrário. Isso mesmo: ao contrário, com as lentes viradas para trás, na altura da nuca, como se fossem os ‘olhos cegos’ de uma dessas composições brasileiras incompreensíveis.

     Talvez seja o calor, esse calor insuportável.

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