terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Doze anos de ignomínias

     Por conhecer um pouco da nossa história recente, marcada pelos mais devastadores desvios de conduta, não ficaria totalmente decepcionado se descobrisse que o ex-governador e atual senador mineiro Antônio Anastasia, do PSDB, recebera, de fato, a tal mala com R$ 1 milhão para sua campanha à reeleição em 2010, como teria acusado um dos quadrilheiros envolvidos na Operação lava-Jato, o ex-policial federal conhecido como ‘Careca’, uma das ‘mulas’ do doleiro petista Alberto Youssef.
     A dignidade, pelo que depreendemos do desenrolar dos fatos nos últimos doze anos, não é, definitivamente, uma das características mais marcantes da política brasileira. A sucessão de escândalos em todos os níveis, em especial no primeiríssimo escalão dessa nossa sofrida Nação, chegou a níveis jamais vistos, comparáveis ao de países sob governos historicamente corruptos, como a Rússia e republiquetas africanas. Portanto, a presença de pessoas teoricamente honradas, como o senador mineiro, na relação de bandidos comuns não me surpreenderia.
     Nossos jornais, hoje, entretanto, começam a colocar a acusação em termos, com a divulgação de declarações de advogados e do principal operador do roubo petista, o doleiro Youssef, inocentando o ex-governador, que se confessou devastado, reforçando a determinação de ir até o fundo das investigações, o que incluiria uma acareação com seu acusador.
     Esse último conjunto de acontecimentos dá um certo estofo à tese levantada pelos líderes oposicionistas: seriam acusações falsas, destinadas a minar o andamento das investigações e refrear o ímpeto de alguns políticos mais destacados, entre eles o senador Aécio Neves (PSDB-MG). Uma espécie de chantagem semelhante à que o ex-presidente Lula submeteu o ministro Gilmar Mendes, do STF, quando do julgamento do Mensalão, até então o maior assalto institucional aos cofres públicos.
     Uma espécie de aviso: “Ou vocês param, ou nós vamos jogar lama em muita gente”, é o que sugere o episódio, que parece ter sido mais um tiro no pé desferido pela quadrilha instalada no país. Ao invés de retrocederem, temerosas, as lideranças oposicionistas vêm exibindo mais disposição de aprofundar as investigações sobre o assalto à Petrobras, destinado – segundo depoimentos oficiais e aceitos pela Justiça – a financiar campanhas e candidatos petistas e assemelhados, entre eles a própria presidente Dilma Rousseff.
     Pelo retrospecto recente, essa interpretação – a de que o PT e seus asseclas estariam tentando chantagear adversários – é a que, a meu ver, tem mais sustentação. Nos últimos anos, tudo de mais desprezível nesse país teve as digitais petistas, começando pelas circunstâncias do assassinato do ex-prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel, em 2002, após ele ter decidido denunciar o esquema de achaque de empresas de ônibus no interior paulista, destinado a arrecadar fundos para o PT, segundo irmãos do prefeito morto.
     Seguiram-se, não necessariamente nessa ordem de importância, o Mensalão do Governo Lula; a produção e compra de dossiês falsos contra opositores; o escândalo envolvendo a empresa Portugal Telecon, que continua rendendo ‘frutos’, em Portugal; a distribuição de dinheiro pelo país, abortada com a prisão de um assessor petista com a cueca recheada de dólares; o balcão de vigarices instalado na Casa Civil, à época da ‘ministra’ Erenice Guerra, que continua sendo convidada para as festas palacianas; o lastimável envolvimento do ex-presidente Lula com a chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Nóvoa, financiado com dinheiro público; as falcatruas da mesma Rosemary, que usava o nome do ‘chefe’ para abrir portas e cofres; a série de demissões de ministros e funcionários de primeiro escalão no início do primeiro governo Dilma; e, afinal (nunca diga finalmente, em casos envolvendo o PT), a abissal roubalheira na Petrobras.
     Para que vocês não tenham dúvida quanto à dimensão estratosférica da devassidão, só me dei conta, agora, que deixei passar mais um escândalo de proporções gigantescas, relegado ao fundo do baú de indecências petistas e assemelhadas: o assalto produzido por agentes públicos e pela Delta, a empreiteira queridinha do PAC, que também irrigou campanhas e bolsos com caminhões de dinheiro roubado de obras públicas.
     E ainda há quem defenda essa corja.



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